Quinta-feira sangrenta

14 de outubro de 2022
Muitos profissionais trabalham vendendo volatilidade. Para eles, ontem foi a quinta-feira sangrenta, da qual jamais se esquecerão. Entenda com Ivan Sant’Anna neste Relatório Especial.

No dia 27 de julho de 2011, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro daquele ano, o Flamengo venceu o Santos por 5 a 4, em plena Vila Belmiro, após ter terminado o primeiro tempo perdendo por 3 a 0.

Dos milhares de jogos de futebol que já vi, esse foi um dos que apresentou maior alternância no placar. Os dois melhores jogadores em campo foram Ronaldinho Gaúcho (Flamengo) e Neymar (Santos).

A partida entrou para os anais do futebol, tal como aconteceu ontem com a sessão da Bolsa de Valores de Nova York, cujas alternâncias na pedra não ficaram nada a dever ao jogo da Vila, onze anos atrás.

Uma hora antes da abertura do mercado, o futuro de S&P500 apresentava alta de um por cento.

Essa alta não tinha muita importância porque o que, supostamente, ditaria os rumos do mercado seria a divulgação da inflação americana de setembro, medida pelo índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês).

Exatamente às 8:30, horário da Costa Leste Americana (9:30 de Brasília), saiu o CPI. Esperava-se + 0,2% e deu + 0,4%. A inflação dos últimos 12 meses subiu para 8,2%.

Como seria de se supor, o S&P levou um tombaço, caindo dois por cento para 3.491, o menor nível desde agosto de 2020, por ocasião do auge da Covid-19.

Acontece que quando todo mundo fica, ao mesmo tempo, pessimista com o mercado, ele sobe.

Sobe porque o último vendedor já vendeu. E só sobram compradores. Isso pode até ser medido por um indicador técnico chamado RSI (Relative Strength Index – Índice de Força Relativa).

A força da onda de compra (grande parte em função de cobertura de posições vendidas a descoberto – short covering) foi tal que o mercado (medido pelo S&P500) fechou nas máximas, tendo subido quase 3% em relação ao fechamento da véspera.

Foi o maior swing do mercado americano de ações desde janeiro de 2008 e a nona vez na história do S&P500 que ele reverte, num intraday, uma queda de 2%.

Aqui no Brasil, o Ibovespa acompanhou Wall Street na queda mas não foi solidário na alta, decepcionando os investidores comprados.

Muitos profissionais do mercado financeiro trabalham vendendo volatilidade. Ganham quando o mercado está estável, ou se movendo moderadamente, e perdem quando a velocidade aumenta.

Para esses, o dia de ontem foi a quinta-feira sangrenta, da qual jamais se esquecerão, exatamente como os torcedores do Santos que acompanharam aquele jogo na Vila Belmiro.

Um forte abraço,

Ivan Sant’Anna.

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Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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