Caro(a) leitor(a),
A maior parte do Fundos de Investimento em Ações (FIA) existente no Brasil não vem conseguindo bater seu benchmark. Isso não tem sido um fenômeno local, o mesmo tem acontecido nos mercados de forma global.
Ocorre que, em geral, os gestores procuram por ações de menor representatividade no índice Ibovespa, ou até ações fora do índice, para compor uma carteira que possivelmente tenha um melhor retorno. Em outras palavras, tentam achar ativos com maior vantagem em relação às ações de grande capitalização.
Uma das razões mais óbvias: é usual que as maiores empresas do país, e logo com maior participação no índice, cresçam menos em relação às ações em franca expansão de seus negócios. Por vezes, também, esses principais ativos do índice podem ficar um pouco mais atrelados ao crescimento da própria economia nacional.
Pois bem, neste ano, até o momento, vem acontecendo algo que não ocorreu nos últimos 10 anos: a maioria dos fundos, mesmo utilizando uma amostra enviesada dos distribuidores, vem perdendo para o benchmark.
Recentemente as maiores empresas do Ibovespa tiveram valorização expressiva quando comparado com o resto das ações da Bolsa, especialmente por duas razões, o rali de commodities -com enorme participação de Vale e Petrobras-, e uma rotação global de empresas de alto crescimento para empresas de valor, como as do setor bancário.
Com isso, e utilizando as duas maiores distribuidoras de fundos independentes do país como base de dados, analisamos que, aproximadamente 4,70% dos fundos FIA estão acima do benchmark (data de corte de 10 de março). Se colocarmos todos os fundos FIA disponíveis no mercado, e não somente os disponíveis nas maiores plataformas, esse percentual fica um tanto pior. Em outras palavras, quase 95% dos FIAs não conseguiram bater o índice Bovespa.
Isso não necessariamente é ruim, apenas um fato que sugere que esse efeito pode continuar caso esse movimento concentrado continue, mas pode se reverter se a natureza dos movimentos da bolsa for diferente daqui para frente.
A reação recente dos investidores dessa classe de produtos não foi tão compreensiva, uma vez que sacaram 20 bilhões de reais em janeiro e fevereiro deste ano. No entanto, temos tantas incertezas pela frente que podemos ter facilmente um futuro diferente do passado recente.
Esse movimento foi ainda mais interessante uma vez que aconteceu num período em que a nossa Bolsa foi a que melhor se desempenhou no mundo. Isso mostra que a Bolsa subir não quer dizer que o fundo esteja performando melhor do que o índice e nem que o fluxo para esse tipo de produto local seja positivo.
Não sabemos como vai ser o futuro, mas não devemos ver esse tipo de número de novo. Os fundos, eventualmente, serão forçados a se reenquadrarem se as grandes continuarem a puxar o índice, ou a dinâmica da bolsa muda, e aqueles que seguiram com suas alocações mais diversificadas serão recompensados.
Christian Lupinacci
Trader da Armor Capital
Nota de editor: Quer montar uma carteira sólida para bater o Ibovespa? Assine a série Mão de Ferro, liderada por Alfredo Menezes, ex-tesoureiro do Bradesco, sócio-fundador e diretor de investimentos da Armor Capital.