Caro (a) leitor (a),
A Cielo é a maior operadora de adquirência do Brasil com uma fatia de mercado de cerca de 30%. Essa participação já foi muito maior e, em 2016, por exemplo, era de cerca de 55%. Com a entrada de uma série de concorrentes em seu segmento, a empresa vem perdendo espaço e os novos players impactaram as margens da companhia, que acabou perdendo em rentabilidade. Por conta disso, suas ações já acumulam uma queda de 91,6% desde o topo histórico em 2015.
Iniciamos com as dúvidas
Atualmente, a empresa está negociando por volta de 70% do patrimônio contábil. À primeira vista, isso pode parecer uma oportunidade, mas para termos certeza disso precisamos analisar a composição do patrimônio líquido que pode ser formado de diversas maneiras.
Assim, consideramos desde os patrimônios mais simples (caixa, imóveis ou plantas industriais), até os mais complexos, como são os casos de ativos intangíveis (créditos tributários, ágio, despesas diferidas). Os primeiros citados são tangíveis, já os intangíveis dependem da continuidade da operação da empresa para se materializarem.
Outra questão que procuramos aprofundar aqui é com relação à dívida da Cielo: será que a empresa tem efetivamente uma dívida líquida negativa como sugerem algumas plataformas de dados, ou será que existem mais detalhes a serem estudados?
Entendendo o patrimônio contábil
O patrimônio contábil da Cielo é de R$ 13 bilhões, mas quando analisamos a composição de seus ativos, percebemos que os registros referentes aos intangíveis da empresa somam R$ 9,7 bilhões e representam 75% do patrimônio contábil da companhia. O nosso movimento seguinte foi entender o que são esses ativos, como podemos observar no quadro abaixo:
RI Cielo
Olhando a nota explicativa, percebemos que o mais relevante dos ativos intangíveis, com 92% de representatividade, são os direitos de exploração de arranjos de pagamento Ourocard.
Esses direitos são para a exploração de gestão de cartões da Cielo junto ao Banco do Brasil e seus clientes, conforme documento abaixo que foi retirado do balanço:
RI Cielo
Isso é, o maior ativo da Cielo é um direito de executar sua atividade fim “diferida” em seu balanço. Claro, isso tem valor uma vez que a empresa tem geração de caixa a partir desse direito, mas não é algo tangível como uma fábrica, uma indústria, ativos biológicos (como florestas) ou até mesmo dinheiro.
Já o segundo ponto que nos chamou atenção, são os financiamentos da Cielo que contam com cerca de R$ 7,5 bilhões em uma modalidade chamada FIDC (Fundos de Direitos Creditórios) que é uma espécie de financiamento lastreado pelas contas a receber de seus clientes.
Dessa forma, a Cielo ganha dinheiro por meio de um spread gerado entre o direito de executar sua atividade e o custo de capital captado para girar seus negócios o que, ainda assim, mostra-se rentável, uma vez que a empresa vem reportando lucro, como no ano de 2021, no qual apresentou um montante de R$ 1,2 bilhão.
Conclusão
A Cielo tem um patrimônio líquido tangível de R$ 3 bilhões e negocia atualmente a 2,5 vezes esse patrimônio. Já os financiamentos das suas operações se dão por meio de terceiros, somando uma dívida líquida de R$ 8,3 bilhões. Já lemos muitos relatórios bons sobre Cielo, mas esses números nunca são citados.
Uma empresa com essas características deve ser avaliada pela sua expectativa de geração de caixa futura. Dessa forma, observamos a Cielo como precificada em linha com empresas dessa mesma natureza.
Um abraço,
João Abdouni
Nota do editor: se você quiser saber se nós preferimos as ações da Cielo ou de outro operadora de adquirência, conheça a série Ações Alpha clicando aqui.