O mercado está pronto para o FED subindo os juros?

18 de janeiro de 2022
Hoje já está amplamente precificado que teremos, pelo menos, quatro altas de juros este ano com o fim do QE podendo ser no primeiro trimestre. Mas será que o mercado está pronto para o FED subindo os juros?

O mercado está pronto para o FED subindo os juros?

Por Rodrigo Natali

 

Caro (a) leitor (a),

No começo de 2021, o Brasil esperava que a inflação ficasse mais alta e que o Banco Central reagisse. As expectativas do Focus eram que os juros fossem elevados para 3% ao ano, mesmo nível esperado para a inflação. 

Como sabemos, as coisas não saíram conforme o planejado e, um ano depois, fechamos com uma inflação acima de 10% e um Banco Central ainda no processo de alta de juros na sua maior intensidade com altas de 150 pontos percentuais. Devemos chegar próximos aos 12% ao ano.

Mas, no meio dessa história, houve um momento em que mesmo com a inflação vindo mais forte, os juros precificando em níveis muito mais altos, a nossa bolsa fazia sua máxima no ano: o começo de junho do ano passado.

Nessa época, a bolsa fez seu topo histórico em 130.776 pontos, os juros futuros com cerca de 5% tinham subido para 8% e o Focus esperava juros em 5,75% ao final de 2021 e uma inflação de 5,44%. 

Com essas novas informações, os juros estavam 60% mais altos, a projeção de inflação e juros para o fim do ano já tinha dobrado, o mercado estava tão tranquilo que fazia novas máximas e o dólar operava abaixo de 5,00 reais.

Nos próximos dias tivemos novos sustos inflacionários. Diante disso, o Banco Central viria a ter que mudar o ritmo de altas na taxa básica de juros de 75 pontos percentuais para 100 pontos percentuais e o mercado começou um movimento de deterioração que entrou nesse em 2022.

Quantas coisas mudaram entre janeiro e junho do ano passado, apenas cinco meses, e quanto estrago foi feito depois disso!
 
E quando olhamos para trás, há 5 meses nos Estados Unidos vivíamos uma outra realidade. Ainda era discutida a possibilidade do tapering, a redução do estímulo monetário quantitativo. O FED ainda dizia que os juros não seriam aumentados em 2022 e que se fossem, só depois que a redução do QE (do inglês ‘quantitative easing’ ou flexibilização quantitativa) fosse terminada. A inflação não tinha batido seu recorde de 40 anos a 7% e Jerome Powell ainda a chamava de provisória.

Hoje já está amplamente precificado que teremos, pelo menos, quatro altas de juros este ano com o fim do QE podendo ser no primeiro trimestre. No entanto, na bolsa americana, tivemos uma rotação entre os setores, que se encontra próximo das máximas históricas. Tudo isso porque o mercado tem plena confiança no FED e acha que quando os juros chegarem a 2,5%, tudo volta ao normal e não teremos sustos na bolsa, na moeda,  ou na renda fixa, uma vez que a volatilidade tem caído na renda fixa americana.

Mas e se a inflação não tiver voltado e o FED se encontrar na mesma situação que o BC em junho? E se no meio do caminho, o mercado americano sentir o tamanho das mudanças a vir e corrigir de forma mais severa?

Não temos essas respostas, só temos as perguntas. Caberá a Jerome Powell respondê-las, o arquiteto de tudo isso que estamos vivendo.

No entanto, se nossa história serve de alguma referência, mesmo quando todos concordam que algo vai acontecer e ele acontece, as mudanças nos fluxos e a nova realidade têm um poder de estragar os planos e as previsões do que vai acontecer com os preços dos ativos. Se podemos concluir algo, é que não vai acontecer o que o mercado acha que vai acontecer.

Um abraço,
Rodrigo Natali

Nota do editor: se quiser aprender a operar a bolsa americana e a brasileira, siga a série Você Gestor neste link.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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