Marfrig entra na BRF: surge uma gigante dos alimentos?

28 de maio de 2021
É hora de comprar ações dessas empresas?

Introdução

A Marfrig, uma das maiores empresas de proteína bovina do mundo, adquiriu 24,23% do capital da BRF. A operação tem como objetivo a diversificação na linha de produtos, e a Marfrig informa que não irá interferir na administração ou exercer influência sobre as atividades da BRF.

A questão é: faz sentido a Marfrig comprar um relevante percentual da BRF sem interesse em uma possível fusão entre negócios complementares?

A equipe de analistas da Inversa Publicações preparou um relatório exclusivo para você entender as possíveis sinergias, caso haja, de fato, a fusão entre as empresas.

Também vamos traduzir números, desmitificar o setor de carnes e apontar os rumos de ambas as companhias.

Confira!

 

Sobre a BRF

 

A BRF é a marca de alimentos mais valiosa do Brasil. Produz, comercializa e distribui carnes frescas de aves e suínos, margarinas e alimentos embalados para mais de 200 mil pontos no Brasil e 140 países no mundo.

São 3 mil produtos e dezenas de marcas conhecidas, tais como:

Em seu mercado, a BRF é a empresa que possui a maior exposição à carne de frango e de porco, bens considerados substitutos para a carne bovina.

Fonte: RI das empresas | Elaboração: Inversa Publicações

 

Sobre a Marfrig

 

A Marfrig é uma das maiores empresas de proteína no mundo, dedicada à produção de alimentos de origem bovina. Fundada há 20 anos no Mato Grosso do Sul, a Marfrig cresceu pela aquisição de grandes empresas ao redor do mundo, localizadas nos Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Irlanda. A empresa está em 100 países e é comum que a análise de resultados seja separada por localidade geográfica.

A Marfrig possui três principais receitas: processamento de carne bovina, produtos industrializados e produtos à base vegetal. Sua capacidade de abate é de 31 mil cabeças por dia. Na Operação América do Norte, por exemplo, o abate representa 14% da capacidade total dos Estados Unidos, o que torna a empresa a quarta maior processadora de carne e a mais eficiente do setor, com um braço forte de exportação para o Japão e para a Coreia do Sul.

Já na América do Sul, a Marfrig é a segunda maior processadora de carne do Brasil, atrás da JBS. No Uruguai, a empresa é líder no setor, com produção e exportação de carnes orgânicas para a Europa, Estados Unidos e Japão. Na Argentina, ela é líder em hambúrgueres e salsichas. No Chile a empresa é a principal importadora de carne de boi.

O segmento de produtos industrializados, como hambúrgueres, salsichas, enlatados e embutidos no geral vem crescendo devido à estratégia da Marfrig de impulsionamento de produtos com maior valor agregado.

 

Sobre o preço das ações | BRF

 

Projeções de Resultados de 2021 a 2025

 

Fonte: Bloomberg Earnings Estimates Survey e analista Flávio Conde (Inversa), baseado no Plano Estratégico “Visão 2030” apresentado no BRF Day

 

As principais premissas da projeção de resultados são:

• Receita operacional líquida de 2021-24 deve crescer seguindo o aumento de volume e preços projetados pela nossa análise. Já a receita de 2025 de R$ 59,145 bilhões, com crescimento de 16% versus 2024, é resultado de investimentos. O objevito da empresa é atingir R$ 100 bilhões de receita em 2030;

• Margem EBITDA é menor em 2021, indo para 12,2%. No ano passado, o EBITDA atingiu 13,1%. A queda foi pela redução da margem bruta, com o aumento dos preços de soja e milho;

• A projeção de crescimento do EBITDA de R$ 5,187 bilhões (2020) para R$ 7,885 bilhões (2025) é o resultado mais importante das projeções de 2021 a 2025 do quadro acima.

 

Apesar do potencial de valorização, a BRF está num momento desfavorável, com margens mais apertadas e abaixo do potencial, devido ao forte aumento dos preços do milho e soja, resultando em EBITDA e lucro líquido baixos.

 

Em resumo a BRF:

1. É uma das maiores companhias de alimentos do mundo.

2. Tem um modelo de negócio baseado em portfólio de marcas globais.

3. Tem ampla rede de distribuição no Brasil.

4. Produz com baixo custo em um mercado crescentemente global com escala e qualidade.

5. Tem visto uma forte alta das commodities agrícola, principalmente soja e milho. Porém, o excesso de oferta de frangos nos mercados local e internacional não permitiram ainda o repasse do aumento dos custos. Esperamos que este repasse ocorra a partir do 2º. semestre de 2021 e, mais ainda, de 2022 a 2025.

6. Apurou resultados financeiros resilientes, com receita líquida crescendo 18,4% no 1T21 versus 1T20, e lucro líquido de R$ 22 milhões revertendo prejuízo de R$ 38 milhões no 1T20.

 

Conclusão sobre BRF: ótima empresa, em um momento de margens baixas, com boas perspectivas de crescimento de vendas e margens a preço atraente.

 

Sobre o preço das ações | Marfrig

 

Projeções de Resultados de 2021 a 2025

Fonte: Analista Flávio Conde (Inversa), a partir dos resultados do Fluxo de Caixa Descontado (2021 a 2025)

 

As principais premissas da projeção de resultados são:

• Receita operacional líquida de 2021-24 deve crescer pouco por conta do menor potencial de preço da carne bovina nos EUA, compensado pelo aumento no volume. Já a receita de 2025 de R$ 82,370 bilhões é a mesma evolução esperada no ano anterior.

• Margem bruta cai fortemente de 17,4% (2020) para 9,8% (2025) devido à esperada queda do preço da carne bovina em relação ao custo, pois a diferença estaria perto da máxima histórica e não seria sustentável.

• O EBITDA diminui fortemente de R$ 9,596 bilhões (2020) para R$ 4,996 bilhões (2025) e é o resultado mais importante das projeções de 2021 a 2025.

 

Valuation – Valor do FCFF – Dívida Líquida e por ação

 

Fonte: Analista Flávio Conde (Inversa), a partir dos resultados do Fluxo de Caixa Descontado (2021 a 2025)

 

Em resumo, a Marfrig:

1. É líder global na produção de hambúrgueres e uma das maiores empresas de proteína bovina do mundo e produz alimentos de alto valor agregado.

2. Opera majoritariamente em duas regiões do mundo: na América do Norte e na América do Sul.

3. Tem custos baixos de produção, escala e forte demanda pelos chineses e americanos têm permitido à Marfrig aumentar as vendas, receitas e lucros. A oferta limitada de boi no Brasil tem feito o preço da arroba subir e bater recordes, acumulando alta de 39% em 12 meses, desde maio de 2020. O preço da carne também subiu no período (35%).

4. Apurou resultados financeiros foram fortes em 2020 e no 1T21 com destaques para:

  • Receita Líquida Consolidada de R$17,2 bilhões: +27,7% vs 1T20;
  • EBITDA ajustado Consolidado de R$1,7 bilhão: +40% vs 1T20
  • Lucro Líquido Consolidado: R$279 milhões vs prejuízo de R$137 milhões no 1T20

 

Conclusão sobre Marfrig: Comparado à cotação de R$ 18,03, em 26/5/21, há potencial de valorização de 66% da ação da Marfrig até o final de 2021.

 

Potencial fusão entre Marfrig e BRF

 

A fusão entre Marfrig e BRF faz sentido do ponto de vista operacional e comercial pela complementariedade das operações. No primeiro trimestre de 2021, a Marfrig teve 73% da receita na América do Norte e 27% na América do Sul, enquanto a BRF obteve 50% no Brasil e os outros 50% divididos entre Ásia, Halal (países de religião muçulmana) e outras exportações.

A cultura das duas companhias parece ser bem diferente, principalmente, porque a Marfrig tem um dono, Marcos Molina. Molina é neto e filho de açougueiros e começou a trabalhar no açougue da família aos 12 anos, em Mogi-Guaçu, no interior de São Paulo. Com 16 anos, pediu ao pai que o emancipasse para montar um negócio de distribuição de miúdos. A pequena empresa chegou a Campinas e São Paulo. Aos 28 anos, Molina tornou-se fornecedor de cortes nobres e importados para restaurantes e churrascarias. Em seguida, o empresário começou a comprar frigoríficos. O primeiro, em 2000, foi o Bataguassu, em Mato Grosso do Sul. Ali nascia a Marfrig.

Hoje, Molina tem 48,4% da Marfrig, o que torna sua administração mais centralizada e dependente das decisões de uma pessoa. Por outro lado, a vantagem é que decisões estratégicas – como fundir com a BRF – depende de apenas uma pessoa.

Já a BRF é uma companhia de controle difuso: não há um controlador apenas, mas um grupo de controle formado por duas fundações (Petros e Previ) e uma gestora de investimentos (Kapitalo).

A diretoria gerencia bem a companhia e tem uma estrutura de tomada de decisões mais descentralizada. Entretanto, decisões estratégicas, como fundir com a Marfrig, levaria mais tempo para ser tomada e precisaria da concordância de mais pessoas.

Não sabemos se a fusão acontecerá, mas nossas projeções de resultados e cálculos de valor justo para as ações indicam que ambas as companhias estão com suas ações subavaliadas e contam com um grande potencial de valorização no médio prazo.

Portanto, entre colocar uma carne de hamburguer no prato ou uma coxa de frango prefira as duas para não perder o sabor de nenhuma delas.

 

Conclusão geral

 

A história nos mostra que grandes empreendedores como Marcos Molina sempre têm um plano em mente e comprar uma fatia tão relevante de uma empresa concorrente não acontece por acaso.

Do ponto de vista operacional e financeiro, ambas companhias estão bem. Portanto, nenhuma delas precisa do recurso da fusão.

As duas estão subavaliadas em bolsa, ou seja, os preços de suas ações não refletem todo o cenário positivo que vivem nem os resultados que podem apresentar nos próximos anos.

Portanto, as ações das duas empresas têm potencial grande para valorização no médio prazo e é interessante ter ações de ambas empresas em carteira. Se a fusão de fato acontecer, o potencial de valoriziação desses papéis pode ser ainda maior.

Um abraço, 

Flávio Conde (CNPI), Antonyo Giannini (CNPI) e Felipe Fernandez (CNPI).

 

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Conheça o responsável por esta edição:

Antonyo Giannini

Analista CNPI

Antonyo Giannini é analista CNPI formado em Ciências Econômicas e Administração de Empresas pelo Insper, com passagem pela Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha. Atualmente é responsável pelas carteiras Premium Caps, Ações Alpha e Renda Passiva Semanal, onde segue uma estratégia de renda com derivativos utilizando linguagem de programação avançada. Após anos estudando o mercado financeiro, se juntou em 2020 ao time de especialistas da Inversa Publicações.

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Flávio Conde

Head de Análise

Graduado e pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV-SP e Mestre em Finanças pela University of Birmingham (Inglaterra), Flávio Conde é professor de Valuation (Análise de Investimentos) da UNESP e possui 35 anos de experiência no mercado financeiro, acumulando passagens por corretoras, bancos e gestoras de recursos nacionais e internacionais. Possui os certificados CNPI, AAI e CPRI.

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Felipe Fernandez

Analista CNPI

Felipe Fernandez é graduado em administração de empresas pela UAM, com extensão na Universidade Europeia (PT). Investidor desde 2015, se especializou no mercado de ações e derivativos, tendo trabalhado em uma das maiores empresas de contabilidade do mundo. Atualmente, compõe o time da Inversa, participando ativamente das séries Top Trades Ultimate e Dividendos Extremos.

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