Copom e a luz no fim do túnel

8 de dezembro de 2021
Hoje o Banco Central, na última reunião do Copom do ano, pode cometer seu último erro de 2021. E quem sabe, o primeiro acerto de 2022.

Copom e a luz no fim do túnel

Por Rodrigo Natali

Hoje a noite teremos o anúncio do resultado da última reunião do Copom do ano. Achamos provável que o Banco Central eleve a taxa Selic em 150 pontos percentuais, do atual nível de 7,75% para 9,25% ao ano. Isso é o mais provável, mas não seria o mais correto.

Como estamos dizendo há algumas reuniões, não achamos que esse jovem BC independente deveria ter ouvido os gritos histéricos de um mercado financeiro bipolar que, manifestado principalmente pela pesquisa Focus, celebrou juros reais negativos, achava que a inflação deste ano ficaria na meta (ficará em mais que o dobro) e principalmente, que o movimento da alta dos juros não invadiria 2022 e muito menos que superaria os 12%.

Veja na tabela abaixo as expectativas com relação ao patamar da Selic no final deste ano.

Nela podemos ver que todos os que exigiram e continuam a exigir uma Selic entre 11% e 12,5% são exatamente os que erraram a previsão, em alguns casos, por 400%. Não viram a maior alta de juros no mundo e no Brasil nos últimos 20 anos. E mesmo assim, repito, estão pedindo duas altas de 150bps nas próximas duas reuniões.

Nesse sentido, mesmo sabendo que o BC vai errar de novo hoje a noite e dar os 150bps, encerrando suas ações no ano de 2021, ele pode começar a preparar o primeiro acerto de 2022 que é, no fundo, o ano que importa para a política monetária.

Como a nossa meta desse ano já está perdida, criticamos certa parte do foco do mercado à inflação corrente, que tem sido muito concentrada nos IPCs que vem vindo mais altos, e não nos IGPs que vem demonstrando deflação. No entanto, é bem razoável esperar que os efeitos das altas de juros e a economia mais fraca já se fazem sentir nos IPCs que deverão ser anunciados em 2022, tornando o trabalho do BC mais fácil.

Além disso, podemos ver a reversão de choques pontuais que tivemos esse ano, como o do preço dos combustíveis e da energia. E mais, um mundo que, em geral, começa a lutar em conjunto contra a inflação, diferente do Brasil e da China que, juntos, eram praticamente as únicas exceções no começo do ano.

Com tudo isso, acho que o BC poderia fazer como os grandes e se tornar data dependente, deixando o resultado da próxima decisão para 3 de fevereiro. Não estaria inovando, o Meirelles fez isso de forma muito bem sucedida por anos, sempre repetindo o bordão de que os movimentos do Copom são decididos na reunião do Copom - diferente dessa gestão que gostava de falar o que ia fazer uma semana antes em eventos privados.

Essa forma de comunicação talvez permitisse ao mercado entender que o poder da definição da taxa de juros não está nele, em nenhum sentido. O maestro é o COPOM e está na hora dele tomar a batuta de volta. Dessa forma, podemos fazer a coisa certa e reduzir o ritmo de alta dos juros e logo parar e esperar, o que seria gentil com a população que ainda sofre os efeitos da pandemia e não merece ter um país jogado na recessão apenas porque um grupo de economistas da Faria Lima errou e agora querem encobrir o erro esquecendo que depois da PEC 179, nosso Banco Central também tem como meta o crescimento e o fomento do emprego.

Acreditamos que essa mudança sútil possa acontecer, e que ela poderá ser uma luz no fim do túnel e, dessa vez, talvez não seja um trem vindo na contramão.

 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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