As 3 grandes decepções da temporada
João Abdouni e Nícolas Merola, CNPI
Nesta semana, divulgamos um relatório comentando três resultados de companhias que se destacaram neste terceiro trimestre. Hoje, vamos fazer o mesmo para as três que decepcionaram nossas expectativas.
Vamos lá!
Stone (STOC31)
Apesar do crescimento das receitas de 26% em relação ao terceiro trimestre do ano passado (3T20), a companhia está tendo suas margens comprimidas. A margem líquida da companhia, que girava na casa dos 30%, foi de 9%. Observamos um acirramento da disputa, principalmente com a líder do setor, a Cielo, reduzindo seus preços e margem visando a manutenção da fatia de mercado.
A empresa também vem crescendo sua equipe, as despesas com marketing e com o administrativo aumentaram cerca de 70%,
Outro fator que afetou seus resultados foi a marcação a mercado da fatia de quase 5% de ações que a companhia detém do Banco Inter (BIDI11) que caiu 35% entre o fechamento do segundo e o fechamento do terceiro trimestre de 2021.
A companhia não vem apresentando bons resultados desde o segundo trimestre de 2021. Desde seu topo, em fevereiro, as ações já acumulam queda de 79%.
No entanto, após toda essa queda, o nível de atratividade, em nossa opinião, começa a ficar alta. Quem sabe, podemos explorar isso mais detalhadamente em edições futuras.
Via (VIIA3)
A Via surpreendeu negativamente principalmente devido ao aumento das reservas para processos trabalhistas que reportou no período. Com o novo montante, de R$1,3 bilhão, a companhia totaliza R$2,5 bilhões em reservas para esse fim.
Com isso, o prejuízo registrado foi de R$638 milhões, e o endividamento cresceu R$1,2 bilhões nos últimos doze meses, passando de R$2,4 bilhões no 3T20 para R$3,6 bilhões no 3T21, por fim a queima de caixa foi de R$1,4 bilhão nos nove meses de 2021.
Assim como nós, o mercado não gostou dos resultados e as ações caíram desde a divulgação -26,4%.
Itaú (ITUB4)
O resultado final, o lucro, normalmente muito importante para bancos já consolidados, veio em linha com o esperado, de R$6,8 bilhões. Entretanto, alguns detalhes como o crescimento mais lento do crédito e as reservas para calotes preocuparam o mercado e geraram queda nas ações do setor de uma forma geral.
A carteira de crédito atingiu 19,5 bilhões de reais, um crescimento de 15,3% em comparação com o mesmo período de 2020.
Já as receitas com o cartão de crédito tiveram crescimento de 14,9% vs. o 3T20 e atingiram 3,3 bilhões de reais. No mesmo período, as receitas com serviços cresceram 6,4% e as de seguro 4,3%.
Com isso, o banco atingiu um crescimento dos lucros 34,8% vs. 3T20, com um retorno sobre o patrimônio (ROE) de 19,7%.
O ponto negativo do resultado está no índice de cobertura, que é a divisão do saldo total de reservas para inadimplências (PDD) sobre os empréstimos vencidos há mais de 90 dias.
Para o Itaú, esse índice vem caindo de 339% no terceiro trimestre de 2020 para 283% no segundo trimestre de 2021 e chegou ao nível mais baixo no terceiro trimestre, de 234%.
Simulando uma recomposição dos níveis de reservas, que em junho de 2021 foi de R$43,5 bilhões, estimamos que as despesas com inadimplências precisariam ser de R$7,2 bilhões no trimestre e foram de R$5,6 bilhões.
Com isso, o lucro recorrente, que foi de R$6,8 bilhões, seria de R$5,5 bilhões e o retorno sobre patrimônio (ROE) cairia de 19,7% para 16%.
A redução da reserva poderia ser explicada caso o consumo se estabilizasse ou aumentasse nos próximos trimestres. No entanto, na teleconferência, o CEO comentou que o cenário para 2022 é “pouco encorajador”, possivelmente pelo crescimento mais lento da do crédito ou por uma possível recomposição de reservas.
Isso pode ser contrário à redução do estoque de reservas para inadimplência, ou indicar uma expectativa de menor crescimento da carteira de crédito.
Os desafios de 2022 preocuparam o mercado, uma vez que as ações de ITUB4 caíram 8,9% após o resultado.