A solução para a Petrobras e para o problema dos caminhoneiros

23 de maio de 2022
Os ministros Paulo Guedes e Adolfo Sachsida avaliam aumentar o tempo de reajuste dos combustíveis. Mas será que essa seria a melhor medida para lidar com uma alta volatilidade?

Já parou para pensar na quantidade de vezes que a política de preços de combustíveis vira manchete nos jornais? Isso acontece justamente porque, a cada reajuste, ela agrada mais a um dos três envolvidos na equação: o governo, os investidores e a população.

Isso está acontecendo novamente com a nova proposta feita pelo novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que, dessa vez, quer que os preços sejam atualizados em prazos fixos de 100 dias, segundo ele, trazendo mais previsibilidade aos consumidores.

O grande problema desse modelo, e que poucos ousam comentar, é que ele dá abertura para os especuladores de combustíveis entrem no jogo comprando da Petrobras, entre as janelas de 100 dias, quando ela estiver oferecendo combustível mais barato que o mercado internacional e, portanto, comprando dos importadores quando a empresa estiver oferecendo combustível a um preço mais elevado.

Ou seja, o benefício da queda dos preços não será totalmente repassado aos consumidores, tornando-se lucro dos especuladores, mas o malefício do aumento será. Neste caso, o aumento no intervalo de reprecificação encarece o preço do combustível para nós consumidores.

Então, qual a solução para tirarmos esse intermediário do jogo? Ou pelo menos diminuirmos sua lucratividade ao máximo a ponto de sua participação não criar um encarecimento substancial no preço do combustível? A resposta é que, ao invés de aumentarmos o prazo de reprecificação como está sendo sugerido, deveríamos diminuir.

Ao reduzir esse prazo, o preço da Petrobras sempre será competitivo e não haverá desvantagem sobre o preço internacional, consequentemente, todos comprarão com ela. O ideal é que essa reprecificação fosse feita semanalmente, ou quem sabe até diariamente.

Mas isso tudo que falamos não é cem por cento novidade, afinal, a Petrobras já teve uma política de preço similar a essa durante a gestão de Pedro Parente, e caso se lembram bem, isso culminou no famoso episódio da greve dos caminhoneiros.

Isso quer dizer que essa política de preço não funciona? Não exatamente.

Para que ele funcione, uma outra mudança tem que ser adotada, um sincronismo entre os reajustes dos preços dos combustíveis e o reajuste da tabela de frete.

Na verdade, o frete deveria seguir o modelo norte-americano composto por duas partes: a do combustível e a da remuneração do caminhoneiro. A parte do combustível, lá conhecida como Fuel Surcharge, seguiria o preço de referência dado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), ou algum outro órgão governamental, para cada uma das regiões brasileiras. Já a parte da remuneração do caminhoneiro seria negociável. Dessa forma, ele garantiria para sua operação, uma margem de lucro para todos os fretes, independentemente de como se comportasse o combustível.

Essa combinação, em linha com a dos Estados Unidos, permite que os preços dos combustíveis para o consumidor não tenham distorções relevantes do preço de mercado, conseguindo atender da melhor forma possível à população, que sofreria menos com a ação dos intermediários. Com isso, a Petrobras praticaria uma política mais sólida e sustentável e os caminhoneiros não teriam mais a preocupação com as oscilações de preços do diesel dado que o elo mais forte da cadeia é quem ficaria com o ônus do combustível.

 

Nícolas Merola e João Abdouni, analistas CNPIs 

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Nícolas Merola

Ações e Fundos de Investimento

Formado em Engenharia Civil pela UVA (Universidade Veiga de Almeida - RJ) em 2017 e com MBA pelo IBEC/INPG em 2018. Nícolas começou a estudar sobre investimentos ainda no início de sua faculdade, quando se apaixonou pelo assunto. Depois de atuar por mais de três anos no mercado de renda variável, de forma autônoma, se juntou em 2019 ao time de especialistas da Inv.

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João Abdouni

Analista CNPI

Graduado em Contabilidade e administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, João possui grande experiência em auditoria contábil, trabalhando por anos na Ernst & Young, famosa empresa inglesa de consultoria. Apaixonado pelo mercado financeiro, integra o time de especialistas em investimentos da Inv e está à frente das séries Premium Caps, Ações Alpha dentre outras.

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