Olá, leitor(a),
Na crônica Os mercadores de hoje, vou mostrar o que eu pensava, há exatamente quatro anos, quando faltavam algumas semanas para o presidente Michel Temer passar a faixa presidencial para seu sucessor, Jair Bolsonaro.
Aí dá para ver se errei tudo, ou se acertei alguma coisa. Vale lembrar que duas coisas me empolgavam na dupla Bolsonaro/Paulo Guedes:
- O entusiasmo pelas privatizações;
- O slogan “Mais Brasil, menos Brasília.”
Mas vamos ao texto, do qual não mudei sequer uma vírgula:.
“O resultado das eleições presidenciais deixou claro que o povo optou pela direita liberal (mesmo que não entenda o significado desse conceito) e rejeitou a esquerda corrupta. Não exatamente por ser corrupta – grande parte do populacho acha que todo político é ladrão − mas por ter falhado em prosseguir melhorando a renda e o emprego no país.
Jair Bolsonaro já disse ao que veio. Vai delegar poderes nas áreas econômica e de combate ao crime, mas cuidar pessoalmente dos setores de seu interesse, sobre os quais faz declarações todos os dias. E é aí que mora o perigo.
Alguns ministros foram indicados pelas bancadas BBB (Bala, Bíblia e Boi). Esses três setores nem sempre comungam das mesmas ideias e poderá ocorrer conflitos entre eles.
Certos ministros são no mínimo exóticos. Entre eles, um chanceler, diplomata de carreira que jamais conseguiu ser embaixador, e um responsável pela Educação colombiano indicado por um “filósofo” residente nos Estados Unidos, homem que se julga irresistível.
O presidente será escravo da Constituição, mas fará tudo para mudá-la através de emendas.
Do mesmo modo, respeitará a autonomia dos demais poderes, mas tentará trocar, na medida do possível, as pessoas que ocupam os cargos principais do Legislativo, Judiciário e Ministério Público. Poderá tentar também, através de PEC, reduzir a idade máxima dos ministros do STF de 75 para 70 anos, o que lhe dará oportunidade de nomear quatro novos nomes para a Suprema Corte.
Se a facada de Juiz de Fora ajudou Bolsonaro a ser eleito, por outro lado atrasará sua posse de fato. Poderemos ter uns dez ou vinte dias de governo Hamilton Mourão.
Tanto os bons fluidos como as incertezas já estão precificados pelo mercado. Resta observar o resultado desse blend exótico. Isso só se saberá a partir de fevereiro, quando a nova Legislatura do Congresso tomar posse.
Se Guedes e Moro prevalecerem, e Bolsonaro não inventar muito nas outras áreas, o bull market de ações partirá para novos highs.
Enquanto não se sabe o que de fato irá acontecer, o Ibovespa será vendido em rallies e comprado em dips. O dólar, por sua vez, oscilará entre R$ 3,70 e R$ 3,90.
O mercado é uma velha locomotiva “maria-fumaça” cujas caldeiras exigem lenha ou carvão o tempo todo. A cada tantos quilômetros precisa de água para não derreter.
Resumo da ópera (oops, das escaletas do roteiro): O governo Bolsonaro ainda é uma incógnita, cujos atrativos para um bull market prolongado ainda precisarão ser confirmados.
Até lá, esse episódio da minissérie Brasil ainda não poderá ser de todo planejado.
É preciso decifrar o desfecho dos fatos. Não tão cedo que nos leve a cometer erros que se transformem em prejuízos. Não tão tarde que nos faça perder o mercado.”
Um ótimo fim de semana para todos.
Ivan Sant’Anna
Nota do editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO e que você pode conhecer clicando aqui!