Mercadores da Noite #291: Mercados e eleições

27 de agosto de 2022
Vou falar sobre eleições ao longo da história, não só no Brasil como no resto do mundo, que influenciaram o mercado de ações.

Olá, leitor(a),

Na crônica de hoje, vou falar sobre eleições ao longo da história, não só no Brasil como no resto do mundo, que influenciaram o mercado de ações.

Começarei pela maior surpresa de todos os tempos: as eleições gerais na Grã-Bretanha, logo após a Segunda Guerra Mundial.

Durante o conflito, conservadores, trabalhistas e liberais se uniram em um só bloco, ao redor do primeiro-ministro Winston Churchill, para não prejudicar o descomunal esforço de guerra.

Em determinado período, situado entre a tomada da França pelos alemães (junho de 1940) e a invasão da União Soviética pelas tropas de Hitler (operação Barbarossa – junho de 1941), os britânicos lutaram praticamente sozinhos.   

Pois bem, a União Soviética e os Estados Unidos (este após Pearl Harbor – dezembro de 1941) entraram na guerra.

Winston Churchill tornou-se ídolo mundial. Enquanto Adolf Hitler permanecia boa parte do tempo em seu refúgio de Obersalzberg, nos Alpes Bávaros, Churchill se manteve em Londres, trabalhando na lendária residência oficial de Downing Street 10.

Quase todas as manhãs, sir Winston ia visitar os locais mais destruídos pelas bombas que a Luftwaffe lançava sobre a cidade durante a noite.

Quando acabou a guerra na Europa, os três principais líderes aliados, Harry Truman (Roosevelt morreu antes do suicídio de Hitler e da rendição final dos nazistas), Joseph Stalin e Winston Churchill se reuniram na conferência de Potsdam, nas proximidades de Berlim.

Discutiam, entre outras coisas, a divisão do território alemão entre os vencedores.

Durante a conferência, houve eleições gerais no Reino Unido. Churchill pouco se preocupou com elas, tal era a admiração que os ingleses tinham por ele. Mas cometeu uma injustiça imperdoável: comparou os trabalhistas à Gestapo.

De seu lado, os trabalhistas prometeram acabar com a penúria dos tempos de guerra, promovendo o estado de bem-estar social (welfare state).

Churchill, que quase não fizera campanha, perdeu. E perdeu feio. Recebeu a notícia da derrota com grande surpresa e consternação.

Eis como ele mesmo narra o fato em seu livro Memórias da Segunda Guerra Mundial (Editora Nova Fronteira):

“Quando deixei Potsdam, no dia 25 de julho de 1945, por certeza esperava que os números da eleição me deixassem uma maioria razoável. O confronto com a realidade foi surpreendente. Tão absorto eu estivera no desenrolar da guerra e na situação vigente por ocasião de seu vitorioso desfecho, que não compreendi o que havia ocorrido nas Ilhas Britânicas.”

Evidentemente a vitória trabalhista, principalmente por ter sido totalmente inesperada, derrubou violentamente os preços das ações na Bolsa de Londres.

Já a Bolsa de Valores de Nova York não costuma ser afetada pelos resultados de eleições presidenciais.

Isso não aconteceu durante o impasse na apuração na Flórida, em 2000, quando George W. Bush venceu Al Gore por apenas 537 votos. A discussão entre republicanos e democratas sobre uma eventual recontagem, se arrastou durante um mês, ameaçando atropelar a data da posse do eleito (Inauguration Day).

Se, nessa segunda apuração, Gore saísse vencedor, os votos da Flórida no Colégio Eleitoral (de acordo com o sistema de The winner takes all) dariam a vitória a Al Gore.

Como se não bastasse, Gore venceu Bush no voto popular, em todo o país, somando 50.999.897 contra 50.456.002, praticamente um empate na lei dos grandes números.

O resultado foi decidido pela Suprema Corte, que proibiu a recontagem dos votos da Flórida e declarou George W. Bush vencedor.

Nada disso afetou a New York Stock Exchange, que seguiu em seu ritmo normal.

O mesmo (Bolsa estável) aconteceu quando Donald Trump não aceitou a derrota para Joe Biden, em 2020, e seus adeptos invadiram o Capitólio, resultando na morte de sete pessoas.

Nas eleições presidenciais francesas de 1981, quando o socialista François Mitterrand venceu Valery Giscard d’Estaing no segundo turno, houve uma queda de 20% (em apenas dois dias) na Bolsa de Paris e o franco francês se esfarinhou por causa da enorme fuga de capitais.

No Brasil, a eleição que mais afetou a Bolsa foi a de 1989, que resultou na vitória de Fernando Collor de Mello sobre Luiz Inácio Lula da Silva, em segundo turno.

No pregão da sexta-feira anterior ao pleito, o cenário da Bovespa era o de um cassino. Algo como jogar preto ou vermelho na roleta.

Collor prometia liberar importações, enxugar a máquina do governo e privatizações em massa. Lula falava em estatização dos bancos, moratória interna e externa e outras medidas de esquerda. Com uma inflação (mensal, bem entendido) de mais de 50%, deixar dinheiro parado era jogá-lo fora.

Collor venceu e os touros encheram os cofres, esvaziados dois meses e meio mais tarde quando, logo após a posse, o novo presidente fez uma limpa no dinheiro depositado em conta-corrente, assim como no open, na poupança e aplicado em CDBs.

Em termos de bolsa de valores, a atual eleição não deverá criar nem pânico nem euforia. Nem Lula, o Terceiro (o Primeiro, socialista estatizante; o Segundo, paz e amor) nem Bolsonaro contam com apoio irrestrito do mercado.

O que poderá criar volatilidade serão as declarações do vencedor e do perdedor após a divulgação do resultado e as primeiras medidas do eleito logo após a posse, sendo que as de Bolsonaro menos, por ele já estar no governo.

Só nos resta aguardar. De minha parte, não vejo muito risco pela frente. Acho que o mercado será regido pelos resultados das empresas e beneficiado caso as previsões de grande alta das commodities em 2023 se materializem.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna
 

Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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