Mercadores da Noite #262: Guerra e Paz

5 de fevereiro de 2022
Algo em Joe Biden me faz pensar que Sleepy Joe, que de sleepy não tem nada, é dotado de um estilo mais agressivo que seus antecessores recentes.

Caro(a) leitor(a),
 

Na quarta-feira passada, os Estados Unidos mataram, na Síria, o líder do Estado Islâmico, Abu Ibrahim al-Hashemi al-Qurayshi.

A notícia é boa para o mundo, já que o ISIS é um grupo de assassinos implacáveis que tem como objetivo criar um grande califado abrangendo quase todo o Oriente Médio.

Caso lograsse êxito, trariam a região de volta a épocas nas quais quase toda a população do planeta vivia em estado permanente de tirania e violência, então consideradas normais.  

Se Donald Trump ou Barack Obama ainda estivessem na Casa Branca, acredito que teriam feito a mesma coisa. Mas algo em Joe Biden me faz pensar que Sleepy Joe, que de sleepy não tem nada, é dotado de um estilo mais agressivo que seus antecessores recentes.

Donald Trump era agressivo ao falar e tuitar. E não se cansava de insuflar seus milhões de seguidores a executarem ações domésticas violentas.

No exterior, brigou com aliados tradicionais dos Estados Unidos, mas, curiosamente, poupou oponentes.

Quem não se lembra de Trump de mãos dadas com Kim Jong-un dando pulinhos pra lá e pra cá no marco do paralelo 38, divisa das duas Coreias? Ou dele, no Kremlin, falando mal do FBI para ninguém menos do que Vladimir Putin?

Barack Obama se limitou a um golpe cirúrgico, por sinal arriscadíssimo, ao enviar um grupo de Navy Seals, unidade de comandos de elite, em helicópteros, cruzar a fronteira do Afeganistão para o Paquistão.

Nessa manobra, eliminou o inimigo número 1 do país, Osama bin Laden, em sua própria residência, na localidade de Abbottabad.

Bush era de briga. E não foi só por causa do 11 de setembro. Tanto é assim que escolheu o belicoso Dick Cheney para vice-presidente e Donald Rumsfeld para secretário de Defesa.

Além de uma justificável invasão do Afeganistão, de onde Khaled Sheik Mohammed e Bin Laden planejaram os ataques às Torres Gêmeas, Bush e seu secretário de Estado, Colin Powell, inventaram provas de que o Iraque possuía armas de destruição em massa. Baseados nisso, invadiram o país e depuseram Saddam Hussein, mais tarde julgado e enforcado pela Justiça iraquiana.

Bill Clinton era de paz. Certa vez, tendo Osama bin Laden sob a mira de um Predator (bombardeiro de ataque não tripulado), o presidente desistiu de ordenar o disparo do míssil ao saber que haveria danos colaterais. Mulheres e crianças da família Bin Laden iriam morrer junto com ele.

Em outra ocasião, Clinton retirou tropas americanas da cidade de Mogadíscio, capital da Somália, quando jipes de guerrilheiros locais rebocaram cadáveres de US Marines numa cena que as emissoras de televisão exibiram mundo afora.

George H. W. Bush (Bush pai), antecessor de Bill Clinton, liderou a coalizão da Primeira Guerra do Golfo (agosto de 1990 a fevereiro de 1991), que provocou um bull market (tão intenso quanto fugaz) no mercado de petróleo.

Durante esses governos, e aqueles que os antecederam após o fim da Segunda Guerra Mundial, os mercados de ações e de derivativos eram tremendamente afetados por esses conflitos (e ameaças de conflitos) militares.

Nessas ocasiões, as bolsas de valores caíam e os preços das commodities se elevavam, com destaque para os do petróleo. O dólar disparava frente às demais moedas fortes (isso acontece até hoje) no fenômeno conhecido como flight to quality.

Depois os mercados se tornaram essencialmente monetaristas, se importando mais com as taxas de juros.

Guerras, guerrilhas, escaramuças e ataques ao redor do planeta perderam (para as Bolsas, bem entendido) grande parte da importância.

Isso não quer dizer que esse status quo vá durar para sempre.

Se os Estados Unidos e o Leste Europeu decidirem estender o alcance da OTAN (NATO) até a fronteira russo-ucraniana, poderemos ter uma guerra convencional de grande porte.

Nessa eventualidade, na qual não acredito muito, o mercado, em minha opinião, vai olhar só para isso, deixando a Covid e a inflação em segundo plano.

Um forte abraço para todos e um ótimo fim de semana.

Porto de Galinhas, PE, sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Ivan Sant'Anna 

Nota do Editor: Além de assinar a Mercadores da Noite, que sai aos sábados aqui e em Podcast nas plataformas Spotify e Deezer etc., o Ivan Sant'Anna também escreve todas as segundas, terças e quintas-feiras a coluna Warm Up PRO, que você pode conhecer clicando aqui!

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Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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