Caro(a) leitor(a),
Na primeira metade do século passado, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo. Sua renda per capita superava a da França e Alemanha, era o dobro da espanhola e quase igual a do Canadá.
Veio a Segunda Guerra Mundial e a situação dos argentinos só melhorou. Mantendo-se neutros no conflito (embora sem disfarçar um apoio velado ao nazismo), nossos hermanos exportaram commodities, principalmente as agrícolas e pecuárias, para todas as nações beligerantes. E para as neutras também, é óbvio.
Foi esse o cenário herdado pelo coronel populista Juan Domingo Perón quando assumiu o poder, em 1946, literalmente carregado pelos braços do povo.
Pudera! No governo anterior, como ministro do Trabalho, Perón promovera diversas reformas sociais, diminuindo o abismo que havia entre a classe rica (em sua maior parte latifundiários) e o povão.
Como se não bastasse, Juan Perón era casado com uma ex-atriz, Eva, mais conhecida como Evita, dotada de enorme carisma e protetora dos “descamisados”.
Com a situação econômica mundial voltando ao normal, Perón continuou gastando como na época em que a Argentina era o celeiro, e o açougue, do mundo.
Para piorar as coisas, Evita faleceu prematuramente, aos 33 anos de idade. Juan Perón cometeu um ato imperdoável para o povo argentino. Deixou que o preço da carne subisse.
Num cenário de crise econômica, agravada pela inflação, e uma série de conflitos sociais, o caudilho foi deposto por militares do Exército e da Marinha.
Juan Domingo Perón tomou o caminho do exílio, passando por diversos países, mas continuou exercendo forte influência na política argentina.
A volta só aconteceu em 1973, oportunidade em que foi recebido no aeroporto por uma multidão calculada em 3,5 milhões de pessoas.
No dia 12 de outubro daquele ano, Perón foi eleito presidente obtendo 62% dos votos. Só que a situação político-econômica do país se deteriorara completamente, agravada pelo primeiro choque do petróleo e por diversos atentados terroristas de um grupo intitulado Montoneros.
A lenda Perón foi salva, pela morte de seu inspirador, em 1º de julho de 1974. Isso não impediu que seu nome continue elegendo candidatos até hoje.
Brasil, 1º de março de 1930 – O candidato da situação, Júlio Prestes (nenhum parentesco com o líder comunista Luís Carlos Prestes), vence as eleições presidenciais derrotando o oposicionista Getúlio Vargas.
Alegando fraudes na votação, os getulistas protestam em todo o Brasil. Quatro meses mais tarde, o governador da Paraíba, João Pessoa, é assassinado numa confeitaria de Recife por motivos passionais.
O crime serviu de pretexto para um movimento revolucionário, que levou Getúlio a assumir o poder liderando o governo provisório (que viria a se transformar em ditadura e durar 15 anos).
Durante esse tempo, Vargas precisou lidar com os problemas causados pela Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial.
Os dois eventos não impediram que sua popularidade se mantivesse crescente, graças à introdução da legislação trabalhista e outros benefícios aos operários, o que lhe valeu o título de “pai dos pobres”.
Em setembro de 1944, o Brasil enviou tropas para a Itália, juntando-se aos exércitos aliados, atendendo aos anseios populares e a um pedido do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt.
Após a vitória, ficou difícil para o país manter uma ditadura tendo combatido o nazifascismo nos campos de guerra da Europa.
No dia 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas renunciou à presidência para não ser deposto pelos militares e recolheu-se a um exílio voluntário em sua estância em São Borja, no Rio Grande do Sul.
Em 1950, ao som da marchinha
“Bota o retrato do velho outra vez
Bota no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar...”
Getúlio Vargas voltou a se eleger presidente, obtendo 48,73% dos votos (à época não havia segundo turno), contra 29,66% de seu principal adversário, brigadeiro Eduardo Gomes.
Durante a campanha (lembrem-se de Perón) Getúlio prometeu baixar o preço da carne, objetivo no qual fracassou. Mas não foi por esse motivo que deixou o governo.
Fê-lo por conta própria ao dar um tiro no peito em 24 de agosto de 1954. Foi a maneira que encontrou para se livrar das acusações de responsabilidade no atentado contra o político Carlos Lacerda que vitimou fatalmente o major da Aeronáutica Rubens Vaz.
“Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”, assim termina a carta testamento de Getúlio Dornelles Vargas.
Segundo as pesquisas de intenção de voto até agora, Luiz Inácio Lula da Silva se elegerá presidente da República em outubro deste ano.
Resta saber se o Bolsa Família vai voltar fermentado, se a inflação regressará aos trilhos da normalidade, se os pobres voltarão a viajar de avião e se teremos de novo o Pibão.
O mercado financeiro sabe que isso é impossível se não for precedido de no mínimo dois anos de austeridade e estará atento ao desenrolar dos acontecimentos para agir de acordo.
Sem paixões, bem entendido, que é o que se espera de um verdadeiro trader.
Um abraço e ótimo final de semana.
Ivan Sant’Anna
