Mercadores da Noite #258: Meus laços com a Usiminas

8 de janeiro de 2022
Vou contar a história de meu vínculo com a siderúrgica de Ipatinga e mostrar como ela influenciou minha vida.

Caro(a) leitor(a),
 

Antes de mais nada, é importante frisar para o caro amigo assinante que este artigo não tem a intenção de indicar as ações da Usiminas para compra, muito menos a venda para aqueles que já possuem o papel.

A ideia é simplesmente contar a história de meu vínculo com a siderúrgica de Ipatinga e mostrar como ela influenciou minha vida.

Mas comecemos pelo início.

Em 1957, apenas 12 anos após os bombardeios de Hiroxima e Nagasaki, o Japão já tinha uma economia suficientemente pujante para investir no exterior.

O setor escolhido foi o da produção de aço. País: Brasil. Estado: Minas Gerais. Local: Vale do Rio Doce, mais precisamente o município de Coronel Fabriciano, do qual mais tarde o distrito de Ipatinga se tornaria autônomo.

Nessa ocasião, meu pai era diretor financeiro do BNDE (atual BNDES) função que acumulava com a de assessor do presidente Juscelino Kubitschek.

Certa manhã, JK chamou o velho ao seu gabinete e disse:

Sant’Anna, tem um pessoal de Belo Horizonte dizendo que há uns japoneses interessados em participar de um projeto siderúrgico no Vale do Aço. Dá pra você dar um pulo lá para ver se isso não é apenas conversa de Praça Sete (praça Sete de Setembro, no centro de BH)?

Pois bem, meu pai foi até a capital mineira, estudou e se entusiasmou com a iniciativa. Tanto que pediu a Juscelino para trabalhar na Usiminas, nome escolhido para a nova siderúrgica.

Com a concordância do presidente, o velho (que tinha à época 42 anos) viajou para o Japão. Assinou um acordo através do qual um grupo japonês, o governo de Minas Gerais e o BNDE teriam um terço da nova empresa cada um.

Em julho de 1958, a família Sant’Anna se mudou para Belo Horizonte. Confesso que, aos 18 anos, fui com muita má vontade, má vontade essa que se extinguiu em menos de um mês, graças as amizades que fiz no meu bairro (Carmo) e no colégio (Marconi) onde fui matriculado.

Nós tínhamos também casa em Ipatinga, onde meu pai sempre me levava para vê-lo acompanhar o andamento das obras.

Foi assim que testemunhei as inaugurações da coqueria, do primeiro alto-forno, da aciaria e da laminação.

Nessas ocasiões fui apresentado a quatro presidentes da República: Juscelino Kubitschek, João Goulart, Humberto Castelo Branco e Ernesto Geisel.

Juscelino presidiu o lançamento da pedra fundamental da Usina Intendente Câmara, nome dado ao parque industrial da Usiminas.

De João Goulart, não me esquecerei nunca. Corria o ano de 1962 e a Usiminas estava sendo inaugurada.

Jango, de terno escuro e gravata, mantinha-se de pé, sem nenhum abrigo, sob um sol de rachar, enquanto o enviado especial do imperador Hiroito, do Japão, proferia um discurso, de aproximadamente uma hora de duração. Em japonês.

Como fiquei pertinho do presidente Goulart, pude vê-lo e ouvi-lo balbuciar, entre dentes, uma série de impropérios contra aquele suplício que o cerimonial lhe impôs.

Em 1º de maio de 1964, meu pai, agora secretário-geral do ministério do Planejamento, conseguiu que Castelo Branco comemorasse o Dia do Trabalho na Usiminas.

Sendo Ernesto Geisel chefe da Casa Militar de Castelo, conheci os dois na hora do almoço. Nessa ocasião, eu tinha 23 anos de idade e trabalhava como operador e corretor de câmbio na H. Picchioni, em Belo Horizonte.

Como os engenheiros japoneses que moravam em Ipatinga, não sem razão, desconfiavam do cruzeiro, atendendo a um pedido de meu pai, todo final de mês eu fretava um Cessa Skylane, da Líder Táxi Aéreo, de Belo Horizonte para Ipatinga, ida e volta.

Ia repleto de dólares, inclusive notas miúdas e moedas, e voltava com os cruzeiros (maços e mais maços) dos japoneses.

Depois que me mudei de Belo Horizonte para Nova York, nunca mais fui a Ipatinga. Mas sempre acompanhei a trajetória da Usiminas.

Certa ocasião, ainda estatal, ela se tornou a usina siderúrgica de maior produtividade no mundo. Não por acaso foi escolhida por Fernando Collor para ser a primeira empresa do governo a ser privatizada.

À época, num episódio constrangedor, as pessoas que chegavam ao prédio da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, onde ocorreu o leilão, eram recebidas a chutes e empurrões por militantes de esquerda.

Se, em 1957, meu pai não tivesse manifestado a JK seu interesse em participar da direção da nova siderúrgica, eu jamais teria me mudado para BH e conhecido minha primeira mulher, com quem tive dois filhos e três netos.

Só isso basta para afirmar, com convicção, que a Usiminas é parte integrante, e importante, de minha vida.

Um abraço e ótimo final de semana.

Ivan Sant’Anna

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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