Caro(a) leitor(a),
Na segunda-feira, dia 8, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da Justiça do Paraná, incluindo os casos do triplex do Guarujá e do sítio em Atibaia.
Foi o bastante para que a B3 levasse um tombaço de 4%.
O raciocínio da maioria dos investidores, gestores, traders e especuladores foi rápido: nas eleições presidenciais de 2022, Jair Bolsonaro e Lula (que volta a ser elegível) disputarão o segundo turno. Tal coisa, devem ter pensado, será péssima para o país. Isso, obviamente, refletiu no mercado.
Nos dias que se seguiram, o sindicalista e o capitão deram razão aos que pensaram nos danos que o Brasil poderá sofrer, seja na vitória de um como na de outro.
Quarenta e oito horas depois da decisão monocrática de Edson Fachin, Lula, num arrazoado de duas horas, bem ao seu estilo, ocorrido no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, disse que fora vítima da maior injustiça judiciária nos 500 anos de história do Brasil – ele nunca deixa por menos.
Ao afirmar isso, ele se “esqueceu” que Fachin simplesmente anulou as condenações por terem sido proferidas em foro errado (Curitiba) e mandou que os processos fossem transferidos para a justiça de Brasília, em primeira instância. Como não entrou no mérito da condenação, não absolveu Lula de absolutamente nada.
Jair Bolsonaro tremeu nas bases. Como já estava morrendo de medo com o avanço da Covid-19 no Brasil, desta vez usando máscara, lançou, na maior cara de pau, o seguinte slogan: “Nossa arma é a vacina”. Isso alguns dias depois de ter respondido a uma cobrança sobre a própria vacina com a seguinte resposta: “Só se for na casa da tua mãe”.
Os pronunciamentos dos dois supostos candidatos foram tão surreais que, por não terem sido levados a sério, não deram seguimento à queda do Ibovespa.
Como o objetivo desta coluna é falar sobre o mercado, e a política só entra aqui por ser o principal fundamento que movimenta a Bolsa nos últimos tempos, acho que devemos nos conscientizar que faltam um ano e sete meses (19 meses, portanto) para o primeiro turno. Até lá, muita água irá correr por baixo da ponte.
Vejamos o que ocorria neste estágio dos acontecimentos em épocas anteriores:
- Em abril de 1987, Fernando Collor de Mello era um ilustre desconhecido fora de Alagoas, estado que governava. Só oito meses mais tarde, num jantar em Pequim, Cleto Falcão e Renan Calheiros, talvez meio que por brincadeira, mencionaram a hipótese de que Collor poderia ser o primeiro presidente eleito diretamente pelo povo desde Jânio Quadros, em 1960. E não é que foi, contra o próprio Lula, em segundo turno, disputado em dezembro de 1989.
- 19 meses antes de vencer em primeiro turno as eleições presidenciais de 1994, Fernando Henrique Cardoso era ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco e seu nome não constava das listas de presidenciáveis.
- Mesmo fora do Brasil, um ano e sete meses é muito tempo para se afirmar que determinado político será candidato à presidência, ainda menos que será eleito. Donald Trump, por exemplo, era extremamente popular como protagonista do reality show The Apprentice, tremendo sucesso de audiência na televisão. Implicava com o presidente Barak Obama, dizendo que não ele não nascera nos Estados Unidos e defendia teses de ultradireita. Mas não falava em se candidatar à Casa Branca, muito menos o Partido Republicano tentara seduzi-lo.
Voltando ao Brasil, mesmo que Lula e Bolsonaro acabem entrando no páreo, não se pode garantir que os dois irão certos para o segundo turno. Bolsonaro, é claro, tem mais chance de estar lá, por ter a caneta na mão. Não podemos nos esquecer que, desde a instituição da reeleição, todos os presidentes obtiveram um segundo mandato.
Acho bom o investidor esquecer a política nos próximos meses. O que o mercado vai continuar olhando é a evolução da Covid e da vacinação, além da inflação, taxa de juros reais e cotação do dólar (algumas ações continuam baratíssimas na moeda americana).
A entrada de Lula no jogo eleitoral foi apenas um susto que, mais por ter acontecido de modo inesperado, provocou pânico entre os investidores.
Em minha opinião, num país instável como o Brasil, os títulos do governo e os fundos de renda fixa que neles se baseiam só serão atraentes quando renderem, no mínimo, uns 3% reais ao ano após impostos. Fora isso, é Bolsa, Bolsa, Bolsa, incluindo bons IPOs que devem surgir ainda neste ano. Sugiro apenas que se evite empresas controladas pelo governo e concessionárias de serviços públicos, que podem ter suas tarifas defasadas por razões eleitoreiras.
Eu nem deveria estar falando isso, de tão óbvio que é. Mas se alguém entre vocês, meus caros amigos leitores, ainda tem dinheiro na caderneta de poupança, lembro que isso não é investimento. É imposto.
Um ótimo fim de semana para todos,
Ivan Sant’Anna