Caro Leitor,
Como os leitores desta newsletter já devem estar sabendo, a Inversa está lançando o curso Seu Mentor de Investimentos, protagonizado por mim.
Trata-se de uma série de aulas e de diversos conteúdos extras, inclusive monitorias para que você possa fazer perguntas diretamente a mim. Mas como o termo “aula” me parece presunçoso, eu diria que serão conversas de trader para trader, de investidor para investidor, inclusive os pequenos e os que estão começando.
Darei destaque especial aos erros. Não porque tenham sido mais numerosos do que os acertos (caso contrário eu não teria permanecido na profissão durante 37 anos), mas porque é com os erros que se aprende mais.
Quantas vezes me deixei levar pela ganância, por comparações estéreis com traders que estavam ganhando mais do que eu e até mesmo pela soberba. Por outro lado, não foram poucas as ocasiões em que me angustiei com o prejuízo de terceiros, alguns deles colegas de profissão, outros clientes meus que apostaram mais do que podiam apesar de minhas advertências:
“Vai devagar, cara. Do contrário você entrega tudo.”
Me recordo de um colega de trading desk que quebrou horas depois de dizer as seguintes palavras:
“Para não dizer que não fiz nada...”, e deu a ordem fatídica que lhe levou até o último centavo.
Lembro-me de outro que foi dono de uma das maiores sociedades corretoras do Rio de Janeiro, corretora essa que se transformou em banco, que se associou com um grupo americano. Hoje ele mora com a mulher num conjugado de Copacabana cujo aluguel é pago pelo filho.
Tem mais gente, gente. Tem muito mais.
Já vi um trader comprar cacau futuro em Nova York só porque os gráficos prenunciavam forte alta. Alta essa que não se materializou. Imediatamente o cara deixou de ser grafista e se transformou em torcedor.
“Quem sabe vai haver uma seca na Costa do Marfim?; quem sabe a vassoura de bruxa (praga que dizima os cacaueiros) vai se alastrar pelo Sul da Bahia?”
Me dava vontade de esganar o sujeito.“Por que você não troca o cacau por outra coisa?”, eu dizia. “Marco alemão, ações da Vale do Rio Doce, barriga de porco em Chicago, azeite de dendê na Malásia? O cardápio é enorme.”
Mas não. O cara faliu abraçado no cacau. Após ter aumentado sua posição, fazendo preço “mérdio”, piramidando para baixo.
“Se estava barato a três mil dólares a tonelada”, argumentava, “que dirá a dois mil e quinhentos”.
Já vi trader correr para o banheiro para chorar. Não o leite derramado, mas a liquidação compulsória de sua carteira quando não tinha mais garantias a oferecer como margem de sua posição.
E quanto a mim?
Claro, ganhei dinheiro. Já tive avião, carro esporte do ano, apartamento na praia. Já fretei jatinho quando meu voo de carreira estava atrasado.
Mas e as vezes em que dormi (após engolir quase um litro de vodca, acompanhado de soníferos) pensando na posição desastrada que comprara, ou vendera a descoberto, naquele dia e que tinha corrido para lado errado sem que eu tivesse a prudência de fazer um stop?
“Cut your losses, let your profits run (corte seus prejuízos, deixe seus lucros engordarem)” – o ditado é tão simples quanto infalível. Se você obedecer cegamente a esse mantra, jamais perderá dinheiro no mercado. E quantas vezes eu vi investidores e especuladores, tanto amadores como profissionais, permanecerem com uma posição errada dias, semanas, meses e até mesmo anos a fio.
“Um dia o mercado vai voltar”, proclamavam os teimosos.
Bem, alguns se deram bem na teimosia. Tal como relato em meu livro “1929”, o compositor americano Irving Berlin comprou ações na Bolsa de Nova York nos anos 1920, antes do crash, e continuou comprando ao longo de toda a Grande Depressão.
Como Berlin sempre ganhou fortunas em direitos autorais, ele pôde, com sucesso, fazer o tal preço “mérdio”. Quando o índice Dow Jones recuperou as máximas de 1929, um quarto de século mais tarde, Irving Berlin tornara-se um dos investidores em ações mais bem-sucedidos da história. Portanto se você tem outra renda, e pretende viver muitos anos (Berlin morreu aos 101) pode esperar o cacau, ou seja lá o que for, subir de volta para o seu preço. Mas se sua realidade, caro leitor, é outra, não entre nessa.
Dizem que Warren Buffett é o grande investidor da história. Para mim Charles Chaplin foi maior, sem entender nada de bolsa. Simplesmente porque, antes do crash de 1929, vendeu toda sua carteira de ações, seguindo recomendações de sua corretora.
Chaplin também não viveu pouco. Morreu aos 88. Depois de uma infância miserável em Londres, e um sucesso estrondoso nos Estados Unidos, mudou-se para a Suíça. Nunca deixou de ganhar dinheiro. Simplesmente porque sabia seguir as instruções dos que conheciam o mercado.
O único objetivo de meu curso Seu Mentor de Investimentos é fazer com que as pessoas aprendam a lidar corretamente com seus investimentos, sejam elas amadoras ou profissionais de mercado.
Vou fazer isso mostrando os erros (alguns até risíveis) cometidos no dia a dia, seja por ganância, seja por ignorar as práticas mais elementares do bom senso.
Mercado é apenas isso: bom senso.
Pretendo, repito, contar minhas histórias: meus sucessos e insucessos.
Vou também mostrar a infinidade de caminhos que o mercado oferece todos os dias, seja nas ações, nos títulos de renda fixa, nas moedas, nas commodities e até nos investimentos mais exóticos.
Certa ocasião eu, que fui muito rebelde na infância e na juventude, disse para os meus filhos, ainda pequenos...
“Eu quero que vocês me imitem naquilo em que fui bom e sensato. Esqueçam as minhas asneiras, que não foram poucas. E muita gente só se lembra delas. Porque são engraçadas.”
Em meu curso também há episódios divertidos. Mas o objetivo das aulas não é fazer rir. É simplesmente mostrar o caminho das pedras, caminho esse que nem sempre trilhei.
Caso você, caro leitor, toda vez que atuar no mercado, for um perdedor pequeno ou um ganhador grande, meu propósito terá sido plenamente alcançado. É para isso, para instruir, que servem meus cabelos brancos e meu caminhar que já começa a ficar trôpego.
