Mercadores da Noite #20 - Meu livro para você

13 de setembro de 2017
Um lançamento aguardado

Mercadores da Noite

Caro leitor,

Esta newsletter é a respeito da história do livro “Os Mercadores da Noite” e não da história narrada no livro. Tudo começou na tarde de 27 de dezembro de 1992, um domingo.

Se fosse kardecista, eu diria que “Os Mercadores...” não é de minha autoria e que o texto me foi psicografado por algum autor americano. Poderia citar John dos Passos ou F. Scott Fitzgerald, mas acho que seria muita presunção de minha parte. Digamos que foi John Smith, um escritor de Connecticut que jamais conseguiu publicar um dos seus manuscritos e que, após sua morte, só teve como alternativa baixar na varanda de meu apartamento naquele domingo. 

O espírito de Smith veio ao meu terreiro com um caderno escolar e uma caneta na mão.

“Toma”, disse ele, com sua voz rouquenha do Além. “Escreva o que vou ditar”. E, sem dar tempo para que eu me recuperasse do susto, começou:

“Clarence apertou o botão do subsolo e seu elevador privativo....”

Mérito meu ou de John Smith, ou mais provavelmente de ambos (espíritos não baixam em qualquer um), o certo é que desde aquele momento minha vida mudou completamente.

Naquela ocasião eu operava os mercados de Nova York e Chicago, mas ficava a maior parte do tempo no Rio, na trading desk de um banco, de onde passava minhas ordens. Ganhava em média uns 10 mil dólares por mês, o que não era de se desprezar. Mas não estava feliz.

Aos 52 anos, cercado de operadores mais jovens, me sentia meio que um fóssil enciclopédico.

“Ivan, Israel atacou o Sul do Líbano. Isso faz alguma diferença?”
“Nada, cara. É o ataque do pôr do sol. Acontece todos os dias.”

“Ivan, saiu o building permits nos Estados Unidos: + 1,2 por cento. É relevante?”
“Tá dentro do esperado. Veja como os Treasuries nem se mexeram”, eu respondia, olhando de esguelha para o meu monitor de cotações.

Como já fora sócio de um banco e de uma corretora, eu sabia que a qualquer momento teria de dar uma guinada em minha vida. Abrir um negócio, um fundo de investimentos, quem sabe. Caso contrário, me transformaria em uma estátua de sal ali na mesa.

“Ivan, o Beige Book do Fed informou que...”.

Não dava mais.

Após a aparição de John Smith, passei a trabalhar em casa todas as noites e fins de semana em “Os Mercadores da Noite” que, por sinal, ainda não tinha nome. Troquei o caderno escolar por um PC HP 700, no qual rodava o Windows 3.1.

A essa altura eu não precisava mais de Smith, que dispensei solenemente. Julius Clarence adquirira vida própria. Bastava que eu a transpusesse para o teclado.

No inverno (do Hemisfério Norte) 1993/1994, aluguei um apartamento no Upper West, em Nova York. Como a brokerage house da qual eu era trader e broker tinha escritório no World Trade Center, passei a operar dali. Passava o resto do dia e os fins de semana na biblioteca municipal da Quinta Avenida, pesquisando. Viajei para Davenport, Iowa, onde Julius Clarence passara sua infância e juventude, e Chicago, onde Clarence fora floor trader na CBoT.

A história foi evoluindo. Mas, um ano depois, precisei prosseguir as pesquisas, dessa vez em Londres, Paris e Bruxelas, cidades onde passei o inverno seguinte (1994/1995).

Então não deu mais. Meu dia já não cabia nas 24 horas. Ou eu desistia do livro ou desistia do mercado.

Num final de tarde em abril de 1995 me levantei da trading desk no Rio e disse para todos. “Acabou. Nunca mais volto aqui”. E não voltei mesmo. “Os Mercadores da Noite” passou a ser tempo integral.

Alguém já ouviu falar de um campeonato carioca vencido pelo Fluminense com um gol de barriga do Renato Gaúcho? Pois bem, embora tricolor doente, não vi a final, nem na TV. Foi em 25 de junho de 1995. Renato fez o gol (do qual só soube mais tarde) enquanto eu escrevia os últimos parágrafos.

Como, pernosticamente, não tinha intenção de publicar o livro primeiro no Brasil (afinal de contas, eu era o novo John dos Passos), comecei a traduzir o texto para o inglês. “Os Mercadores da Noite de Domingo”, primeiro título que escolhi, simplificando-o mais tarde, tornou-se “The Sunday Night Traders”.

Pronta a nova versão, tentei encontrar um agente ou um publisher nos Estados Unidos. Gastei uma fortuna em cartuchos de tinta e sedex internacional.

Mandei cópias do “… Night Traders” para mais de 100 destinatários. Naquela época a internet estava começando e funcionava precariamente.

Pois bem, não recebi nenhuma resposta. Nem mesmo “Recebemos seus originais e não gostamos” ou “The Sunday Night Traders não se enquadra em nosso projeto editorial.” Nada.

Conformado em ser apenas um autor tupiniquim, enviei os originais em português para duas editoras. Ambas responderam dizendo que não tinham interesse.

Teimoso, resolvi então escrever “Rapina”, trabalho que me tomou apenas três meses, já que, embora o livro fosse supostamente uma ficção ambientada no mercado brasileiro, eu participara, como testemunha e mesmo como protagonista, da maioria dos fatos ali narrados.

“Rapina” foi um sucesso. Levei dois dias para encontrar uma editora. O livro já saiu em primeiro lugar na lista dos mais vendidos e, na lista, permaneceu durante cinco meses. Aí foi fácil publicar, no Brasil, “Os Mercadores da Noite”.

Sucesso de crítica e de público, o livro, além de ter sido lançado pela BM&F, numa edição especial, foi, ao longo dos anos, também publicado pelas editoras Rocco, Sextante e Arqueiro, sempre se esgotando nas livrarias. Finalmente saiu a edição em inglês: “The Sunday Night Traders”, também esgotada.

Através de duas produtoras de cinema (RT Features e United Talents – esta última de Harrison Ford, Johnny Depp e Gwyneth Paltrow) vendi, em 2009, os direitos de filmagem do “... Night Traders” para Hollywood.

Após “Rapina” e “Os Mercadores da Noite”, publiquei mais 14 livros, nenhum deles com um personagem tão fascinante como Julius Clarence. Junto com os espíritos de John dos Passos, F. Scott Fitzgerald e John Smith, aguardo ansiosamente a hora de ver Julius repaginado apertando o botão do subsolo em seu elevador privativo. E essa hora finalmente chegou...

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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