Mercadores da Noite #193 - Cansei de jogar dinheiro fora

26 de setembro de 2020
Veja como eu estou saindo da “perda fixa” e indo em direção aos melhores investimentos

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Caro leitor(a),

Durante 12 anos, entre 1983 e 1995, operei exclusivamente nos mercados especulativos internacionais, geralmente futuros negociados em Chicago e Nova York. Trabalhava também com calls e puts, mas geralmente do lado vendido, para faturar o time value.

Short nas opções, ganhava na maioria das vezes. Mas, de vez em quando, levava uma bola nas costas e entregava quase todo o lucro daquelas que, antes, haviam virado pó.

A partir de abril de 1995, quando decidi trocar os números pelas letras, para escrever Os mercadores da noite, mantive meu dinheiro depositado nos Estados Unidos, aplicado em Obrigações do Tesouro americano: Treasury Bonds e Treasury Bills.

Rendiam uma merreca mas não me davam preocupações, já que aqui no Brasil eu vivia de direitos autorais, mais tarde somados a um belo salário de roteirista da TV Globo, onde escrevia episódios das séries Carga Pesada e Linha Direta.

Ganhei também uma baba ao vender os direitos de filmagens de The Sunday Night Traders, versão em inglês de Os mercadores da noite, para a RT Features e a United Talent.

Houve duas exceções em minha decisão de manter o dinheiro lá de fora aplicado em Treasuries.

Na primeira delas, comprei ações da empresa de alta tecnologia Martin Marietta, que me foram indicadas por um amigo. Na segunda, adquiri obrigações da Petrobras, emitidas em dólar, com juros de 6% ao ano, pagos semestralmente.

Esse trade foi feito durante o auge do escândalo Petrolão, época em que a estatal nem mesmo pôde publicar seu balanço por não saber o tamanho do rombo nos cofres da empresa. Consegui comprar os papéis com deságio de quase 30%.
  
Quando o governo Dilma Rousseff permitiu que os brasileiros com dinheiro no exterior pudessem repatriá-lo pagando 30% de imposto de renda e multa, trouxe tudo para cá.

Apliquei em fundos de renda fixa.

Nestes 21 primeiros meses da administração Bolsonaro, a renda fixa no Brasil deixou de ser atraente, apresentando perda real e até perda nominal.

Quando, após a chegada da pandemia de coronavírus, o Ibovespa caiu para as proximidades de 60.000 pontos, achei que tinha feito um fundo. Acertei em cheio. Fiz uma aplicação em blue chips na B3, que me deu 12% em três dias, e voltei para a “perda fixa”.

Há cerca de um mês, cansei de jogar dinheiro fora. Apliquei parte dele, uns 10%, em criptomoedas. Agora estou pensando em pôr tudo, ou quase tudo, em ações.

Meu objetivo é buy and hold (comprar e sentar em cima) ações tradicionais. Simplesmente para tê-las e receber dividendos, sem me importar muito se o mercado está subindo ou caindo. Pretendo adquirir os papéis ao longo dos próximos meses.

Já escolhi as primeiras ações (com a ajuda de meus colegas analistas da Inversa):

Vale ON (VALE3) – Sempre gostei da empresa, mesmo quando era estatal. Como uma mineradora de ferro tem de ser competitiva em logística, a antiga Cia. Vale do Rio Doce sempre foi eficiente na extração e no transporte ferroviário e marítimo.

Após a privatização, tornou-se ainda mais rentável. E tem tudo para melhorar, lastreada no crescimento da China e na valorização do dólar frente ao real.

B3 ON (BVMF3) – Acompanhei a B3 desde antes da fusão da BM&F com a Bovespa, já que escrevi o livro Projeto Maratona, que trata do processo de desmutualização e IPO da primeira. Tem monopólio do negócio no Brasil. Portanto ganha na alta e na baixa do mercado.

É tão importante para as finanças do país quanto o Banco Central.

Papel para guardar para sempre.

Petrobras PN (PETR4) – Tem custo baixíssimo de extração de óleo cru na camada do pré-sal. Superou totalmente os escândalos do passado. Está se livrando dos maus negócios e se concentrando em sua atividade básica: prospectar e comercializar petróleo. Agora tenta na Justiça autorização para vender suas refinarias.

Itaú Unibanco PN (ITUB4) – Dos três grandes bancos privados brasileiros, Bradesco, Santander e Itaú, este é o meu preferido. Pretendo comprar ações da holding, visando dividendos.

Como sempre fui muito explorado pelo banco, como correntista, chegou a vez de passar para o lado de lá do balcão.

Magazine Luiza SA (MGLU3) – A Magalu conseguiu se dar bem em todos os cenários em que se envolveu, inclusive quando teve suas lojas fechadas na pandemia. Faz ótimas aquisições. É especialista em logística e comércio eletrônico.

Ambev ON (ABEV3) – Desde que operava Cia. Cervejaria Brahma e Companhia Antarctica Paulista, antes da fusão e antes da Ambev, sempre gostei do setor. Ainda mais agora que se tornou uma potência internacional. É ação para comprar e esquecer.

A esta altura o leitor poderá estar questionando:

“Pô, Ivan, você indicou o óbvio. Não tinha uma barbada para dar?. Algo que desse 100% de lucro em seis meses.”

Desculpem-me quem pensou assim. Estarei fazendo essas aquisições nos próximos meses apenas para me livrar desse cenário de taxas de juros reais negativas, que promete se prolongar.

Quando toda essa crise de liquidez acabar, o que poderá levar um bom tempo, deverei voltar aos títulos do Tesouro ou outras aplicações de renda fixa.

Mas, pelo que penso, esse horizonte está muito distante.

Quero apenas preservar meu patrimônio mobiliário.

Um forte abraço e um ótimo fim de semana.

Ivan Sant’Anna

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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