Mercadores da Noite #151 - Ao alcance do celular

11 de janeiro de 2020
De qualquer local que tenha sinal de internet, vocês terão oportunidade de operar commodities, instrumentos financeiros, opções de compra e venda, índices de ações e até mesmo ações à vista em qualquer bolsa do mundo.

 

Caro leitor, 

Volta e meia, em minhas newsletters, faço comentários sobre os diversos mercados internacionais. Até mesmo indico operações, como recentemente aconteceu com o açúcar, cujo preço, por sinal, fez nova máxima em quatro anos nesta semana em Nova York.

Alguns assinantes já estão ganhando dinheiro no mercado futuro dessa commodity, que pertence ao grupo denominado de softs e da qual o Brasil é o principal produtor mundial. Outros querem saber como operá-la. Sugiro a estes últimos que procurem uma corretora que abra e opere contas internacionais de derivativos.

No seu papel de publicadora de conteúdo, a Inversa não pode intermediar negócios com as instituições financeiras que executam as operações. Nós não somos brokers, nem mesmo introducing brokers, como são denominados os profissionais que se limitam a apresentar clientes para as brokerage houses.

Meu principal objetivo nesta newsletter é ir preparando os assinantes para os novos tempos, que inevitavelmente virão. E não vai demorar muito, com essa guinada que o Brasil está dando para o liberalismo.

De São Paulo, do Rio ou de qualquer localidade brasileira que tenha sinal de internet, vocês terão oportunidade de operar commodities, instrumentos financeiros, opções de compra e venda (calls e puts), índices de ações e até mesmo ações à vista em qualquer bolsa do mundo.

É importante deixar claro que o Brasil continua sendo uma economia fechada, mas já foi muito mais. Acho até graça de lembrar.

Antes dos anos 1990, por exemplo, os cartões de crédito brasileiros tinham a inscrição “Valid Only in Brazil”. Ao viajar para o exterior, só podíamos comprar mil dólares no câmbio oficial (sim, havia isso). O restante, se fosse o caso, precisava ser adquirido de um doleiro.

Com a inflação, que mais tarde se transformou em hiper, os brasileiros de mais posses, e até mesmo de classe média, com medo de uma moratória interna (o confisco de Fernando Collor foi mais ou menos isso), tinham contas fora do país. A maioria não era declarada no imposto de renda daqui.

As mudanças foram acontecendo aos poucos, num ritmo muito mais lento do que seria de se desejar. Numa delas, o próprio Collor abriu as importações de veículos e outros produtos, forçando a indústria nacional a se modernizar para enfrentar a competição externa.

Recentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, incluiu em suas intenções permitir que os brasileiros possam manter contas em dólares nos bancos daqui, coisa corriqueira em qualquer país desenvolvido.

“Eu quero abrir uma conta em euros”, diz com a maior naturalidade um londrino ao seu gerente na City. “E aplicar o saldo em obrigações do Tesouro da Espanha”, completa.

Enquanto isso, nós vamos caminhando a passo de cágado em direção a essa etapa essencial para o crescimento do país. Mesmo assim, é melhor do que ficar parado, ou até mesmo retroagindo, a economia se fechando, tal como aconteceu na administração Ernesto Geisel, com sua reserva de mercado.

A glória será quando um especulador brasileiro puder entrar (física ou virtualmente) numa corretora internacional e comprar ou vender dez contratos futuros de ouro ou de prata na Comex em Nova York. Se quiser, poderá depositar a margem de garantia em reais mesmo, que a instituição fará a conversão cambial automaticamente.

Alguns dos meus leitores mais açodados querem fazer já esse tipo de operação. Mas, por enquanto, isso é burocraticamente complicado, embora não seja impossível.

Quando essas situações acontecem, me lembro da época em que estudava Mercado de Capitais na Graduated School of Business Administration da New York University – NYU, ocasião em que eu não aplicava nem especulava em nada, mas que me deu grande retorno. Simplesmente porque aprendi como funcionam os diversos mercados.

Só mais tarde, quando retornei ao Brasil, pude pôr em prática muita coisa que estudei lá, conseguindo, inclusive, dar minhas maiores tacadas operando contratos futuros de commodities, como conto em detalhe no livro que acabo de lançar e que, se você reservar por aqui, a Inversa banca o frete da entrega. 

Aprendi análise gráfica, a usar computadores para calcular rentabilidade de carteiras de ações e, maravilha das maravilhas, a operar calculadoras eletrônicas com quatro (sim, eu escrevi quatro) memórias.

Por falar em calculadoras, a Friden alemã que trouxe dos Estados Unidos para o Brasil, e que atraía traders de outras mesas de operação do Rio de Janeiro só para vê-la, era equipada de cinescópio e válvulas (como os das televisões de antigamente). Era preciso esperar aquecer para funcionar.

Quando escrevo sobre açúcar, petróleo, café, S&P500, índice Nikkei, etc., é principalmente para que você, caro amigo leitor, vá se familiarizando com o mercado internacional, tal como aconteceu comigo nos anos 1960.

Tenho certeza de que logo estará operando esses ativos, pagando imposto de renda (urghhh) no Brasil sobre os lucros que obteve lá fora, mas, por outro lado, deduzindo dos resultados daqui as perdas internacionais.

O mercado brasileiro sempre foi extremamente fechado, impedindo que nossos traders aproveitassem as oportunidades ensejadas em todo o mundo desenvolvido.

Acho, acho, não, tenho certeza de que isso vai mudar. Antes do que muita gente imagina.

Só de lembrar que houve um tempo em que para se tomar uma garrafa de Jack Daniel’s ou Johnny Walker era preciso recorrer a um muambeiro e que batatas fritas Pringles só se encontrava nos duty free shops dos aeroportos, percebe-se que as coisas estão evoluindo.

É por essa razão que continuarei escrevendo sobre o mercado internacional. Fosse só para dar água na boca dos leitores, já teria desistido há muito tempo e me concentrado nos ativos daqui.

Enquanto isso, vamos aprendendo como as coisas funcionam. Logo você estará digitando em seu smartphone: “Buy ten March Sugar at 1371 (US$ 0,1371), with a stop at 1349”.

Era tão fácil e simples quando eu fazia isso.

Um abraço,

Ivan Sant'Anna

Se você tiver críticas, elogios, sugestões ou perguntas ao autor desta newsletter, envie um e-mail para mercadores@inversa.com.br.

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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