Mercadores da Noite #141 - Leitura obrigatória

2 de novembro de 2019
Minha crônica de hoje é sobre livros imprescindíveis para que você tenha uma vasta cultura geral, cultura essa que irá lhe dar grande vantagem na hora do “pega pra capar”.

Caro leitor,

Se você quiser tirar o máximo proveito do mercado financeiro, sugiro que jamais pare de estudar. Aliás, o economista, embaixador e ministro Roberto Campos, pai do liberalismo brasileiro, costumava dizer: “Quando uma pessoa perde o gosto pelos estudos, é porque chegou a hora de morrer”.

Antes de mais nada, caro amigo leitor, não opere de orelhada. Você vai perder dinheiro à toa. Faça o máximo de cursos possíveis, assine publicações sobre Bolsas, fundos e futuros. Frequente aulas disponíveis na internet, ouça áudios e, se for possível, assista a palestras presenciais. Para todos os gostos e orçamentos, a Inversa dispõe desses produtos.

Só que minha crônica de hoje é para falar de algo mais abrangente. De livros imprescindíveis para que você tenha uma vasta cultura geral, cultura essa que irá lhe dar grande vantagem na hora do “pega pra capar”.

Vou citar algumas obras que foram essenciais em minha formação de trader, escritor, palestrante e analista. Passemos às indicações:

A Grande Guerra pela Civilização – A conquista do Oriente Médio, de Robert Fisk, Editora Planeta, 2007 (1.493 pgs). Foi o melhor livro que li em minha vida. Mudou minha maneira de ser e de pensar.

Fisk, um dos mais bem-sucedidos correspondentes de guerra de todos os tempos, traça um panorama completo da região, desde o nascimento do profeta Maomé (571 DC), à fundação do Estado de Israel (1948), estendendo-se aos dias de hoje.

O autor, que tinha contatos pessoais com pessoas tão díspares quanto Osama bin Laden, George W. Bush, Ariel Sharon, rei Fahd (da Arábia Saudita), Tony Blair, Bill Clinton, aiatolá Khomeini, xá Reza Pahlavi, Saddam Hussein e Vladimir Putin, não alivia a barra de ninguém.

Quem ler A Grande Guerra pela Civilização será uma pessoa diferenciada. Isso vai pesar muito na hora de tomar decisões sobre o mercado.

O Petróleo – Uma História de Ganância, Dinheiro e Poder, de Daniel Yergin, Editorial Scritta, 1992 (932 pgs). O petróleo é por larga margem a mais importante das commodities, influenciando não só todas as outras como também os diversos mercados de moedas e instrumentos financeiros.Yergin, um dos maiores especialistas no assunto, narra toda a história do “ouro negro”, desde a descoberta, em 1854, num regato da Pensilvânia, curiosamente chamado de Oil Creek, de um óleo viscoso e combustível que mudaria o destino da humanidade.

O livro explica a importância do petróleo nas duas guerras mundiais, narra a crise de Suez (1956), a Guerra dos Seis Dias (1967), do Yom Kippur (outubro de 1973), que deu origem ao primeiro choque de preço, a Revolução Iraniana (1979, segundo choque) e a Guerra do Golfo, fora a chamada Guerra de Preços, quando George H. W. Bush, vice-presidente de Ronald Reagan, precisou viajar à Arábia Saudita para evitar que a cotação do barril caísse abaixo de 10 dólares.

O Petróleo tornou-se a bíblia do assunto. Foi, inclusive, adaptado para o cinema e para a televisão com o título de The Prize – The Epic Quest for Oil, Money & Power, com oito capítulos. A produção está também disponível em quatro DVDs.

A Lanterna na Popa – Memórias, de Roberto Campos, Topbooks, 1994 (1.417 pgs). Em sua autobiografia, Campos conta a história econômica do Brasil, desde o tratado de Bretton Woods (1944) até quase o momento atual.

O livro, uma ode à livre iniciativa e à diminuição do Estado, entre outras coisas, compara a nossa evolução (evolução?) com a de diversos tigres asiáticos, como Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan.

Só para dar água na boca de quem quer fazer um upgrade no intelecto, eis os dois últimos parágrafos:

“Minha geração falhou na tarefa de fazer do futuro o presente, lançando o país numa trajetória de progresso sustentável, sem inaceitáveis desníveis de renda e oportunidades. Neste crepúsculo da vida não posso senão ver o facho passar às novas gerações, na esperança de que alcancemos algum dia a visão pisgah da Terra Prometida, onde os bons encontrarão recompensa, os maus não mais poderão fazer o mal, e os cansados, afinal, encontrarão descanso...

Infelizmente, a minha ‘lanterna na popa’ só ilumina as ondas passadas...”

Se o caro amigo leitor tem menos de 50 anos, não testemunhou nem uma fração dos tempos da ditadura militar no Brasil. Mas eu acompanhei e vivi tudo de muito perto, já que tinha 23 anos de idade quando João Goulart foi deposto, dando início ao período de exceção que os adversários chamam de “anos de chumbo”.

Foi, por qualquer prisma que se o analise, uma época de ausência de democracia. Economicamente, teve méritos e deméritos. O certo é que influencia os tempos que a sucederam.

Para se entender melhor aqueles 21 anos, nos quais os presidentes da República eram escolhidos nos quartéis e impostos ao Congresso, nada melhor do que ler os cinco volumes de Elio Gaspari: A Ditadura Envergonhada; A Ditadura Escancarada; A Ditadura Derrotada; A Ditadura Encurralada; e A Ditadura Acabada.

Os quatro primeiros foram publicados pela Companhia das Letras. O quinto e último, pela Intrínseca. Totalizam 2.434 páginas. É possível deduzir (pelo menos essa é a minha opinião), que Castelo Branco quis impedir uma república sindicalista (talvez comunista); Costa e Silva acolheu a ditadura através do AI-5; Médici presidiu um período de grande prosperidade, mas ignorou solenemente a primeira crise do petróleo, deixando-a para seu sucessor, Ernesto Geisel, o mais estatizante de todos os presidentes brasileiros. João Figueiredo não teve outro remédio a não ser o de devolver o poder aos civis.

Todos os cinco presidentes militares tiveram grande influência no que acontece hoje, principalmente no inchaço do Estado (Lula só inchou seus companheiros) e nas trágicas consequências que disso resultam.

Para encerrar a lista desta crônica, sugiro a leitura de Uma Breve História da Euforia Financeira, de John Kenneth Galbraith, Pioneira, 1992, 80 páginas tão divertidas como instrutivas. Na obra, Galbraith narra os principais episódios especulativos da história.

Se você, meu amigo, estiver disposto a aprender com os livros que sugeri acima, e realizar essa tarefa, tenho mais uns 30 para indicar. Trata-se da melhor maneira de entender, sem paixões ou fanatismos, os fatos que ocorreram, que estão ocorrendo e que irão ocorrer.

Conheça o responsável por esta edição:

Ivan Sant'Anna

Trader e Escritor

Uma das maiores referências do mercado financeiro brasileiro, tendo participado de seu desenvolvimento desde 1958. Atuou como trader no mercado financeiro por 37 anos antes de se tornar autor de livros best-sellers como “Os Mercadores da Noite” e “1929 - Quebra da Bolsa de Nova York”. Na newsletter “Mercadores da Noite” e na coluna “Warm Up PRO”, Ivan dá sugestões de investimentos, conta histórias fascinantes e segredos de como realmente funciona o mercado.

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