Gritty Investor #67 - Fugindo para o Brasil

14 de dezembro de 2018
Malas prontas

Oi.

No começo de 2018 eu tomei algumas decisões baseadas na minha incerteza sobre o desfecho das eleições. O Brasil escolheria democraticamente qual direção iria tomar no futuro. De maneira simplificada, poderíamos escolher seguir o caminho da Colômbia ou da Venezuela.

Era uma encruzilhada muito importante para que um plano de ação fosse feito no calor das eleições. Vou contar agora qual era o meu plano.

Se a esquerda ganhasse as eleições, inicialmente, eu migraria todos os meus recursos líquidos para o exterior. A decisão de me mudar com minha família dependeria da confirmação dos meus medos em relação ao caminho que seria escolhido. Essa era a decisão e hoje estou feliz e otimista de estar no Brasil.

Acho que muitos que estão lendo essa carta devem entender esse sentimento. O fato de que alguém pretende colocar “ordem” na casa já me deixa otimista em fazer negócios, em investir novamente por aqui.

Mas minha decisão de sair do Brasil precisava ser seguida de outra: para onde ir e qual moeda utilizar como base de cálculo. Isso parece uma decisão simples, mas é extremamente complexa. Uma pessoa que pensa em reais (meu caso), quando aloca parte de seu patrimônio em dólares, euros, ouro, criptomoedas, etc, sempre usa como régua o real, porque o objetivo final é voltar ao real.

Só faz sentido dizer que ganhou dinheiro (reais) comprando dólares se o objetivo é voltar a ter reais. O norte-americano não acha que ganhou ou perdeu reais na medida em que o dólar sobe ou desce.

Assim, escolher a moeda de base de cálculo era fundamental. E foi aí que percebi que não existe hoje uma moeda muito óbvia para servir de base. Não pretendo expor aqui uma análise macroeconômica complexa, mas apenas responder duas questões básicas:

- O país emissor da moeda produz ativos, bens e serviços que são úteis? Ativos incluem empresas e imóveis. Serviços abrangem educação e saúde.

- O modelo econômico atual é sustentável ou precisa de ajustes para continuar existindo?

- Esse país está caro ou barato? Essa parece uma pergunta boba, mas todos temos uma resposta clara quando viajamos de que se determinado país está caro ou barato. Do táxi do aeroporto ao preço do hotel, passando pelas compras e restaurantes, em pouco tempo sabemos se o país está caro ou barato.

A taxa de câmbio é o preço mais importante de um país. Voltarei a falar mais sobre isso no futuro.

E foi tentando responder essas três perguntas que me dei conta de que os países desenvolvidos hoje têm um problema: como resolver a situação fiscal sem mergulhar numa recessão? Europa e Estados Unidos não conseguem crescer sem juro próximo de zero e déficit público sustentando a demanda.

Já o Brasil está numa situação oposta: basta resolver o problema fiscal para que a economia volte a crescer. Se isso acontecesse, as curvas longas de juros iriam desabar, o mercado de crédito iria florescer naturalmente e o financiamento para investimento estaria disponível, junto à confiança do empresário.

Precisamos resolver nosso problema de segurança pública, facilitar a vida de quem pretende fazer negócios e dar segurança jurídica para contratos. Atualmente somos apenas um país barato. Mas a agenda do governo eleito passa fundamentalmente por resolver as outras duas questões que fazem um país ser atrativo para o capital global: segurança e liberdade econômica.
Negócios são pessoas. Países são pessoas. Essa eleição de 2018 pode ter sido a primeira depois da virada do pêndulo ideológico. Esse pêndulo é muito mais lento que os mercados, mas muito mais duradouro que carreiras políticas. Se isso for verdade, estamos apenas no início de um processo longo.

Se em 2018 eu estava considerando fugir do Brasil, em 2028 poderemos ver não só o capital, mas pessoas produtivas e com capital financeiro e intelectual considerando fugir PARA o Brasil.

Nesse dia, vamos olhar pra 2018 e lembrar com saudade de como tudo era barato no Brasil: ações e imóveis serão ativos valiosos e nossa moeda vai valer mais.

Não deixe de escrever para gritty@inversapub.com dizendo o que achou da newsletter de hoje.

Um abraço,

Pedro Cerize

Conheça o responsável por esta edição:

Pedro Cerize

Gestor de fundos de investimentos e autor da série A Carta

Sócio-fundador da Inv e da Skopos Investimentos, Pedro Cerize é considerado um dos melhores gestores de renda variável do Brasil. Em sua série “A Carta”, analisa a economia brasileira e sugere alocações de investimentos. Também é autor da newsletter "Gritty Investor" e está à frente da série "1+100 Reloaded", além de participar da "Top Pix".

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