Gritty Investor #64 - Conselhos de uma tartaruga

19 de outubro de 2018
A importância do processo para o sucesso nos investimentos

Oi.

Ainda estou atordoado pelo longo voo de volta de Kona, no Havaí, e das sete horas de fuso horário que separam o Brasil daquela ilha isolada no meio do Pacífico. Saí de um ambiente cujo único foco era a discussão política em torno das eleições e fui para um ambiente onde o único foco era a disputa do campeonato mundial de Ironman. Agora, voltei para o ambiente da eleição e os ânimos estão mais acirrados do que nunca.  

Posso dizer que, hoje, estou cansado; cansado de triathlon e cansado de política. Quero retomar a tranquilidade da rotina diária. No fundo, quero me livrar da ansiedade que a final do mundial e a eleição presidencial criaram nos últimos meses. Essa sensação de que tudo se define agora. Já sei a sensação de terminar o Ironman. Por isso, imagino como vai ser a sensação depois do segundo turno: nada mudará e a vida continuará. Foi só outra prova. Será apenas mais uma eleição. Nada estará resolvido e todas as possibilidades ainda estarão lá, esperando para se concretizar.

Sempre enfatizei as semelhanças entre a prática de uma atividade esportiva e investir. Ambas dependem de disciplina e demandam tempo. Em nenhuma os resultados são garantidos. Existe sempre uma combinação de mérito e de sorte.

A diferença principal é que, para mim, o esporte traz apenas uma recompensa íntima, não monetária e - diria até - irracional. E, justamente, por ser uma atividade íntima e individual, tenho certa dificuldade de falar das minhas experiências.

O que eu posso dizer é que este ano eu cheguei preparado para a prova. Apesar de ter conseguido um bom tempo e um recorde pessoal lá (9h27min), cometi alguns erros e tive alguns infortúnios que me impediram de fazer a corrida perfeita. Essa mistura de sentimentos, de saber que tudo deu certo na preparação e que por detalhes não foi possível atingir o que eu considero ideal, é que mantém em mim a chama acesa.

Mas a prova perfeita não acontece no dia do evento. Ela começa muito antes, durante a fase de preparação. Ela é fruto não somente do esforço no dia ou do período de treinos que antecede a final. É resultado de uma série de experiências passadas, de erros cometidos, de lições próprias ou aprendidas com aqueles que já estiveram lá. Daqueles que já escalaram a montanha. Não dá para julgar tudo o que aconteceu apenas pelo tempo de chegada, apesar de não haver outro indicador melhor.

É preciso dar atenção ao processo que nos leva ao resultado. É necessário aprender com a experiência, ser brutalmente sincero para assumir a responsabilidade pelos erros e humilde o suficiente para aceitar que ainda existe muita coisa que não sabemos e não controlamos.

Eu mantenho um diário eletrônico detalhado de todos os meus treinos. Por ano, pratico em média 880 horas. Mas, antes das principais provas, esse volume é maior e se aproxima de 24 horas por semana nas 3 modalidades. Para esse ano, em média, em cada uma das últimas sete semanas eu nadei em 18 km, pedalei 420 km e corri 80 km. Não fiquei doente, não tive lesões e não furei um pneu sequer. Tudo deu certo. 

Além disso, estava gerindo o fundo em um período extremamente delicado e falando diariamente com os participantes do projeto 1+100, em uma experiência nova para mim. O fundo performou bem e acho que o projeto atingiu a maioria dos objetivos propostos. Pessoalmente, foi uma fase produtiva depois de um período turbulento.  

O fato de saber que eu tinha feito o que estava ao meu alcance até então me deixava com a sensação de que tudo era possível na largada. E é justamente essa a sensação que eu julgo fascinante. Ao entrar na água junto com outros 2.300 atletas, a vitória, ainda que improvável, era factível. O resultado final já não importava tanto. O processo que me levou até aquele momento estava terminado e o objetivo foi alcançado: estar em uma posição em que o sucesso era possível.
  
Essa é a grande lição que, como investidor, devemos tirar dessa história. Não devemos focar no resultado de cada um dos eventos, mas na preparação para que o melhor resultado seja possível. Sem preparação, o sucesso não acontece.

Uma vez que o investidor tenha a disciplina e a determinação de se preparar, ele vai entrar em um oceano de oportunidades junto com os melhores e a vitória não será um sonho, mas uma possibilidade. Se você procura certezas, não vai encontrar isso no Ironman e nem na Bolsa.
  
E foi numa praia do Havaí que recebi de uma tartaruga marinha uma lista com alguns dos melhores conselhos de investimento que já vi.

 

Conselhos de uma TARTARUGA MARINHA

Nade com a corrente
Seja um bom navegador
Fique calmo sob pressão
Seja bem viajado
Pense em longo prazo
Envelheça graciosamente
Gaste tempo na praia

 

Essa tartaruga sabe mais verdades do que a grande maioria dos especialistas em investimento, com seus linguajares rebuscados e suas fórmulas de sucesso que mudam a cada estação.

Não deixe de escrever para gritty@inversapub.com dizendo o que achou da newsletter de hoje.

Um abraço,

Conheça o responsável por esta edição:

Pedro Cerize

Gestor de fundos de investimentos e autor da série A Carta

Sócio-fundador da Inv e da Skopos Investimentos, Pedro Cerize é considerado um dos melhores gestores de renda variável do Brasil. Em sua série “A Carta”, analisa a economia brasileira e sugere alocações de investimentos. Também é autor da newsletter "Gritty Investor" e está à frente da série "1+100 Reloaded", além de participar da "Top Pix".

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