Gritty Investor #49 - Negócios são pessoas

13 de maio de 2018
Meu papel aqui não é recomendar ou desaconselhar investimentos em empresas específicas

Gritty Investor

Oi.
     
Começo esta newsletter hoje ressaltando que meu papel aqui não é recomendar ou desaconselhar investimentos em empresas específicas, mas sim falar da importância da gestão na análise de investimentos. E esse é um trabalho que você, investidor, deve fazer. 
     
Nesta semana a Petrobras voltou a registrar lucro líquido relevante. Li, em várias matérias de negócios, analistas aplaudindo a gestão de Pedro Parente. Isso veio na sequência de uma entrevista que me deixou admirado: Jorge Paulo Lemann veio a público dizer que está se sentindo ultrapassado como gestor. Ele reconhece que: 1) apenas a busca por eficiência e o corte de custos já não são suficientes para garantir sucesso nos negócios; e 2) que, atualmente, a vantagem competitiva de marcas consagradas já não é garantia de um retorno superior sempre. O homem que, até outro dia, era chamado de Midas pela mesma imprensa que hoje aplaude o trabalho de Pedro Parente na Petrobras, diz que aprendeu sua lição e vai mudar no futuro.

Minha admiração por Parente vem muito antes de ele se tornar o ícone atual. Em um tempo remoto, em que a Skopos fazia apresentações anuais aos investidores (Skopos Day), ele foi um dos palestrantes. Aliás, baseado em uma palestra dele sobre ciência política em geral (ele não falou sobre o Brasil) que observo tudo que acontece no mundo: desde analisar o que o Trump está fazendo até buscar explicações sobre o que de fato acontece nos bastidores do partido comunista chinês. O grande feito do Pedro Parente foi ter administrado o apagão do FHC de uma forma que evitou uma catástrofe econômica - que eu via na época como inevitável. Criou ali a base do sistema de geração atual, muito mais robusto que o anterior.
      
Apesar dos avanços importantes na gestão, é difícil empresas estatais chegarem a padrões de eficiência comparáveis aos de empresas privadas. E não é uma questão de querer fazer mais, mas sim de fazer o que precisa ser feito em uma empresa estatal. Além disso, empresas de commodity dependem de dois elementos incontroláveis: câmbio e preço da commodity, que são variáveis sobre as quais a gestão não tem controle, principalmente no médio e longo prazos. Por isso, também não vi o Pedro Parente indo aos jornais se vangloriar de seus feitos. Ele sabe que seu papel é defender os interesses da companhia e, principalmente, não colocá-los contra o interesse político de quem o colocou lá. Isso eu sei porque foi ele mesmo que me ensinou. O interesse de quem está no poder é permanecer no poder ou ser importante na escolha de seu sucessor. 
    
Quando vejo pessoas como Lemann e Parente, tendo a ficar otimista com o futuro. Porém, quando vejo não só o mercado, mas também pessoas, em geral, buscando ídolos e não ideias, sinto que ainda estamos longe de chegar lá.

A única proteção definitiva para empresas estatais é a privatização. Essa é uma tarefa dificílima, porque não podemos sair do mal atual, de ver esse ativo sendo usado para benefícios políticos ou ilícitos, e passar para outro mal, de termos monopólios/oligopólios privados (sem estímulo à competição de mercado) tomando conta de setores fundamentais para a competitividade de um país. Essas empresas não deveriam continuar como estão, mas não poderiam ser vendidas como são. Antes de um gestor, precisaremos de um líder político para enxergar isso e hoje o único que vejo dessa forma não parece ser o que vai ser eleito.
       
A humildade de Lemann de reconhecer a necessidade de se aprimorar sempre, e a nobreza do Pedro de não chamar para si méritos que não são dele, e nem mesmo os que são em benefício do bem maior da empresa, são raros, mas existem. Assim como Churchill, que praticamente sozinho mudou o destino de uma nação e de um continente, de tempos em tempos encontramos pessoas que fazem a diferença. Mas em vez de ficar tentando achar esses salvadores da pátria todo dia, deveríamos nos apegar aos ideais que eles pregam. Pessoas passam, mas as ideias ficam. 

Acompanhe os comentários do Pedro em tempo real pelo Twitter!

E não deixe de escrever para gritty@inversapub.com dizendo o que achou da newsletter de hoje.

Um abraço,

Pedro

Conheça o responsável por esta edição:

Pedro Cerize

Gestor de fundos de investimentos e autor da série A Carta

Sócio-fundador da Inv e da Skopos Investimentos, Pedro Cerize é considerado um dos melhores gestores de renda variável do Brasil. Em sua série “A Carta”, analisa a economia brasileira e sugere alocações de investimentos. Também é autor da newsletter "Gritty Investor" e está à frente da série "1+100 Reloaded", além de participar da "Top Pix".

A Inv é uma Casa de Análise regulada pela CVM e credenciada pela APIMEC. Produzimos e publicamos conteúdo direcionado à análise de valores mobiliários, finanças e economia.
 
Adotamos regras, diretrizes e procedimentos estabelecidos pela Comissão de Valores Mobiliários em sua Resolução nº 20/2021 e Políticas Internas implantadas para assegurar a qualidade do que entregamos.
 
Nossos analistas realizam suas atividades com independência, comprometidos com a busca por informações idôneas e fidedignas, e cada relatório reflete exclusivamente a opinião pessoal do signatário.
 
O conteúdo produzido pela Inv não oferece garantia de resultado futuro ou isenção de risco.
 
O material que produzimos é protegido pela Lei de Direitos Autorais para uso exclusivo de seu destinatário. Vedada sua reprodução ou distribuição, no todo ou em parte, sem prévia e expressa autorização da Inversa.
 
Analista de Valores Mobiliários responsável (Resolução CVM n.º 20/2021): Nícolas Merola - CNPI Nº: EM-2240