Gritty Investor #3 - Atenção no Godzilla

26 de maio de 2017
“If your only tool is a hammer, all your problems will be nails”

Gritty Investor

Oi,   

A notícia sempre foi uma commodity valiosa; valiosa e perecível. A corrida para ser o primeiro a publicar e a vender sempre moveu o jornalismo. Com a internet, essa corrida atingiu uma escala inimaginável e o leitor agora enfrenta um novo dilema: saber o que é noticia e o que é ruído.
   
Vimos o jornalista Lauro Jardim divulgar o furo jornalístico da carreira, causar um terremoto no meio político e nos mercados, ser unanimemente seguido por seus pares e se mostrar extremamente impreciso em menos de 24 horas. A delação da JBS dominou o noticiário na última semana, e não tenho nada de relevante para adicionar nessa novela. Esse não é o propósito da Inversa.

É preciso tentar diferenciar a leitura entre fatos e factoides. Entre o que realmente está acontecendo e o que querem que você pense que está acontecendo.

Isso acontece em todos os temas, mas hoje eu quero tratar de um em especial: o objetivo central do governo americano na esfera internacional.

Primeiro tenho que lembrá-los qual é o primeiro objetivo de um político ao assumir o cargo: perpetuar o poder dele e do grupo que o apoia. Trump não é diferente. É com esse pensamento que ele monta sua equipe de governo. Essa equipe vai mudando de acordo com as conveniências e necessidades políticas, e analisando a equipe temos um panorama de qual a intenção do presidente em cada área atuação.

Na esfera internacional, destacamos dois nomes do Governo Trump:

1. Rex Wayne Tillerson é secretário de estado, texano, ex-CEO da ExxonMobil. Entre muitas realizações, destaco duas: negociou interesses da ExxonMobil diretamente com Putin; antes de ser alçado ao posto de CEO Global, foi presidente da Exxon Yemen (no Iêmen).
  
2. James Norman "Jim" Mattis (Mad Dog) é secretário de defesa. General com longa experiência comandando várias divisões do exército americano no Oriente Médio. Seu último cargo foi no governo Obama, que o substituiu por se opor frontalmente ao acordo nuclear assinado pelos americanos com o Irã. Foi o primeiro nome escolhido por Trump para seu gabinete, e precisou de um waiver do Congresso para assumir o posto de secretário de defesa, dado que a princípio ele precisaria ficar sete anos em quarentena antes de assumir por ser ex-militar.

Trump, Tillerson e Mattis: o que esse improvável trio tem em comum?

Como homens com visões totalmente diferentes do mundo podem olhar para esse problema e convergir para uma solução (nail) em comum?

Trump, o político, sabe que uma guerra para resolver a maior ameaça à paz no Oriente Médio, vinda de um apoiador de grupos terroristas como Hezbollah e de ditaduras como as da Síria, e que tem pretensões nucleares claras, seria de grande valor político no momento adequado, provavelmente final de 2019 e início de 2020, perto das eleições. 

Tillerson, o empresário do petróleo, sabe que seus interesses estão alinhados aos dos sauditas. Essa semana, em viagem a Riad, os americanos acertaram um pacote de 350 bilhões de dólares com venda de armamentos. Irã e Arábia Saudita travam hoje uma guerra silenciosa pelo controle político do Iêmen. Uma guerra contra o Irã, além do benefício imediato de elevar as cotações do petróleo, ajudaria muito a posição das petrolíferas ocidentais na região.   

Mattis entende claramente o risco que o Irã representa para a paz mundial. Sabe que se eles tiverem sucesso no desenvolvimento de armas nucleares, a Arábia Saudita, inimigo histórico do Irã, não terá opção a não ser fazer o mesmo. O mundo vai ser um lugar mais perigoso se isso ocorrer.
    
Três martelos e um único prego. Mas, como um mágico que distrai a plateia enquanto faz o truque, ataques de mísseis na Síria e manobras militares perto da Coreia do Norte distraem a atenção da mídia e da população para o plano principal. Esses truques visam criar nas pessoas um fenômeno de visão seletiva que afaste a atenção ao Irã.

“If your only tool is a hammer, all your problems will be nails”, 
-por Mark Twain-

 (“Se a única ferramenta que você tem é um martelo, para você todo problema começa a se parecer com um prego”, por Mark Twain)

Essa frase é sublime. Cada pessoa vê o mundo e os problemas de acordo com as ferramentas que ela carrega. A nutricionista olha comida e vê os nutrientes. O psiquiatra só enxerga as neuroses em todos os seus contatos sociais. Imagino que deve ser triste a vida de um urologista.

Tenho dois filhos gêmeos. Eles têm uma brincadeira muito boba, mas que demonstra claramente esse fenômeno. Toda vez que eles veem um Fusca azul na rua, um fala “Fusca azul”, e dá um tapa no outro, que não pode revidar. Vocês não imaginam a quantidade de Fuscas azuis que circulam pelas ruas de São Paulo.

Agora que você está ciente de que possivelmente a próxima guerra americana será contra o Irã, sugiro que utilize a sua atenção seletiva. Ela é a habilidade que permite a você falar ao celular num ambiente com muito barulho. A mente desliga os estímulos (ruídos) externos e foca na voz do outro lado da linha. Leia o noticiário em busca de informações sobre a relação EUA/Irã. Assim como os Fuscas azuis circulando em São Paulo, você vai se surpreender ao saber que elas existem em abundância. Você só não estava prestando atenção.

Voltarei a esse tema no futuro, com o que eu considero como riscos e oportunidades quando esse evento, atualmente fora do radar, eventualmente acontecer. Será outra surpresa para os mercados, mas, olhando em retrospectiva, vai parecer óbvio que iria acontecer, principalmente para você.

Conheça o responsável por esta edição:

Pedro Cerize

Gestor de fundos de investimentos e autor da série A Carta

Sócio-fundador da Inv e da Skopos Investimentos, Pedro Cerize é considerado um dos melhores gestores de renda variável do Brasil. Em sua série “A Carta”, analisa a economia brasileira e sugere alocações de investimentos. Também é autor da newsletter "Gritty Investor" e está à frente da série "1+100 Reloaded", além de participar da "Top Pix".

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