Newsletter Extra - O fim de Lula (ou o seu recomeço, leitor)

7 de abril de 2018
Com o resultado histórico do julgamento do habeas corpus do Lula no STF, trazemos a você hoje uma newsletter especial, com comentários dos nossos colunistas e editores, que avaliaram os impactos econômicos e políticos do acontecimento.

Olá, Leitor(a) Inversa,

Com o resultado histórico do julgamento do habeas corpus do Lula no STF, trazemos a você hoje uma newsletter especial, com comentários dos nossos colunistas e editores, que avaliaram os impactos econômicos e políticos do acontecimento.

O que pode acontecer agora e como isso pode afetar os seus investimentos? Abaixo, você encontrará respostas e ideias. Esperamos que você aproveite!

A prisão de Lula faz parte de uma tendência global, por Marink Martins

Influenciada pelo noticiário local, é normal para a população de um país acreditar que eventos ocorrendo ao seu redor tenham características peculiares. Afinal, é da natureza humana se preocupar mais com um vizinho próximo do que com desconhecidos a dez mil quilômetros de distância.

Mas um olhar mais amplo nos ajuda a compreender que muitos desses eventos trazem consigo características globais que, de uma forma lenta, vão se disseminando de continente em continente e acabam por formar um marco histórico.

A prisão de Lula é um ótimo exemplo. Embora seja um drama brasileiro, este ocorre em paralelo a eventos com características similares na Coreia do Sul e África do Sul.

Na país asiático, a ex-líder Park Geun-hye, após passar um ano em reclusão aguardando sentença, foi condenada a 24 anos de prisão e a pagar uma multa milionária. Já na África do Sul, o ex-presidente Jacob Zuma renunciou ao cargo, em fevereiro deste ano, em meio a uma tonelada de acusações de corrupção. Assim como Lula, Zuma nega todos os delitos e diz se tratar de uma conspiração política para prejudicá-lo.

Nota-se que há em curso um movimento global de combate à corrupção. Não se sabe exatamente onde tudo começou, mas a Operação Mãos-Limpas, na Itália, exerceu uma forte influência na Operação Lava-Jato no Brasil. Pouco se fala por aqui, mas uma grande investigação contra políticos russos levou os EUA a aprovarem uma medida, em 2012, que ficou conhecido como Magnitsky Act.

A verdade é que, com os avanços da globalização e da tecnologia das redes sociais, ficou mais evidente às grandes massas que o populismo muitas vezes está associado à corrupção. E que tal prática, em longo prazo, conduz à inflação e, eventualmente, a um maior desemprego. Tudo isso sem falar na violência que ocorre de forma oculta em muitos destes atos.

O gráfico da incerteza, por José Castro  

Após a negação do Supremo Tribunal Federal (STF) ao pedido de habeas corpus do Lula, o mercado abriu com forte alta chegando a subir mais de 2 por cento, levando o índice aos 86.147 pontos, acima do importante nível de 85.500 pontos.

Apesar da abertura aquecida e empolgante, o mercado foi esfriando no decorrer da quinta-feira e fechou com alta de 1,01 por cento, registrando 85.209 pontos.

Será que foi um “voo de galinha”?

Na realidade, todos sabemos que o ex-presidente Lula, após a condenação pela oitava Turma do TRF-4 de Porto Alegre, estava inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Porém, com os últimos desdobramentos e movimentos do STF, os investidores ficaram com uma “pulga atrás da orelha”.

O mercado – que já vinha precificando incertezas no cenário externo com guerra comercial entre as maiores potencias do mundo, saída maciça de recursos estrangeiros da Bolsa brasileira e ambiente eleitoral indefinido – viu a sombra de Lula retornando com a possibilidade de não cumprir a sua pena, causando ainda mais tumulto e confusões nas eleições presidenciais de outubro.

Se tem uma coisa que o mercado odeia é a incerteza. E isso se intensificou durante todo mês de março. Apesar da tendência de alta de longo prazo do Ibovespa, no curto prazo essas incertezas foram rapidamente precificadas, e a nossa Bolsa entrou numa correção (tendência de baixa).

A queda só não foi mais profunda porque houve uma nítida troca de mão entre investidores estrangeiros (vendendo) e institucionais brasileiros (comprando). Mas não sabemos até quando isso será sustentável.

Não foi um “voo de galinha”, foi um “voo de alívio” quando o mercado abriu na quinta-feira subindo mais de 2 por cento após a confirmação do placar de 6 x 5 contra Lula.

Naturalmente, o mercado foi se ajustando. Com a rejeição ao habeas corpus, mais uma barreira foi superada neste ano de grandes desafios. No entanto, estruturalmente não está tudo resolvido. O clima de incerteza política ainda está entre nós e o cenário externo pega fogo tendo como protagonistas os EUA e China.

Uma eleição imprevisível, por Ivan Sant’Anna

O quadro para 2018 será totalmente diferente de tudo que já se viu. Com Lula inelegível, e Bolsonaro (segundo colocado nas pesquisas eleitorais) tendo apenas dez segundos de exposição em cada bloco do programa eleitoral no rádio e na televisão, existe uma enorme possibilidade de que no segundo turno tenhamos um candidato, ou até mesmo os dois, com menos de 20 por cento dos votos obtidos no primeiro turno.

Quem mora na cidade do Rio de Janeiro já viu esse filme nas eleições municipais de 2016, quando Marcelo Freixo, do PSOL, foi ao segundo turno com não mais do que 18,26 por cento dos votos.

Em 1994, Fernando Henrique Cardoso ganhou no primeiro turno com respeitáveis 54,24 por cento dos votos. Repetiu a dose em 1998 com 53,06 por cento. Teve, portanto, representatividade e legitimidade para implantar um amplo programa de reformas, que incluiu o PROER, a Lei de Responsabilidade Fiscal, diversas privatizações e, last but not least, proporcionar ao país uma moeda estável, que por sinal ele mesmo criara no governo Itamar Franco, quando foi ministro da Fazenda.

Neste ano não vejo a menor possibilidade de termos um presidente eleito no primeiro turno. Muito menos de haver um candidato reunindo amplo apoio no segundo.

Tudo indica que boa parte dos brasileiros vai votar no que eles consideram o “menos pior”, ou até mesmo anular seu voto. Caberá a essa pessoa (possivelmente rejeitada antes da bola rolar em 1º de janeiro de 2019) reformar a Previdência, enxugar a máquina do governo e manter o combate à corrupção.

Sinceramente, não dá para ser otimista em 2019. Por duas razões muito simples. As mudanças das quais o país precisa são impopulares. As populares nos levarão para o fundo do poço.

Um ambiente mais favorável, por George Chen

Estamos vivendo um momento de elevada incerteza, tanto no âmbito internacional, quanto no doméstico. Nos EUA, a combinação do retorno da elevação dos juros pelo FED, disputa comercial com a China e ruídos entre as empresas de tecnologia está gerando muito barulho para a bolsa americana.

A minha visão é a de que o mercado brasileiro deve voltar a sua atenção aos assuntos domésticos pelos diversos pontos de incerteza, tanto no plano político, quanto no econômico. Pensando nesta linha, acredito que a decisão tomada na quinta-feira por STF foi um passo importante para a Bolsa brasileira se descolar um pouco da conjuntura internacional e respirar um pouco após acompanhar a recente queda na bolsa norte-americana.

Esta pequena - mas importante - decisão trouxe um pouco de alívio ao Índice Bovespa, que fechou em alta de +1,01 por cento (vs. +0,69 por cento do S&P), no mesmo dia da decisão. Partindo do pressuposto de uma estabilidade ou melhora do risco Brasil (CDS), aliada ao cenário doméstico de mínima histórica da taxa de juros (que já vem mostrando reações na economia, como a desalavancagem das empresas e a recuperação do crédito), podemos esperar um ambiente mais favorável para a Bolsa.

O estímulo também deve ser refletido no âmbito de renda fixa, traduzindo-se em um aumento da liquidez dos ativos e, consequentemente, de seus preços. Os yields, no entanto, devem permanecer elevados (principalmente os mais longos) devido ao cenário ainda incerto.

Comentários de Pedro Cerize
“Todo esse barulho com o assunto da prisão do Lula gera bastante entretenimento, mas tem muito pouca relevância para os mercados.”
*Tweet do dia 06/04

“Nas últimas duas semanas, o Ibovespa conseguiu se manter praticamente estável enquanto os mercados americanos caíram aproximadamente 7 por cento. Seria esse um sinal de que algo importante está acontecendo?

E se isso for verdade, estamos evoluindo como país e o mercado está certo ao ignorar o resultado do STF.

Chego à conclusão de que o ideal ainda é manter a posição conservadora nos investimentos por causa das incertezas quanto aos rumos do mercado externo, a absoluta indefinição do quadro político para a eleição deste ano e estarmos no estágio inicial de um ciclo de recuperação econômica no Brasil.”
*trechos extraídos da série A Carta do dia 03/04.

Oportunidade em Bolsa com prisão de Lula, por Matheus Spiess

Lula, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex, segue finalmente à prisão por decisão do juiz Sergio Moro. Embora muito disso já esteja precificado na avaliação dos ativos financeiros no Brasil, saltam aos olhos algumas oportunidades alinhadas com a melhora do ambiente macroeconômico no geral, possibilitando algumas movimentações nas carteiras de investimento.

Em primeiro lugar, há uma verdade mais que evidente. Sem Lula, o Brasil mitiga um grande fator de risco, o de ter um candidato contrário às reformas necessárias ganhando terreno nas eleições, seja este o próprio Lula ou alguém apoiado pelo petista.

Espelhado já em partidos de esquerda fragilizados e fragmentados, Lula preso significa uma queda substancial de risco para o país, facilitando a continuação do ciclo de queda da taxa básica de juros da economia, a Selic.

Com a Selic já em mínimas históricas, os investidores começam a seguir para a Bolsa. Logo, aquele que se antecipar a esse movimento conseguirá capturar o fluxo em si. Apenas imagine o potencial de retorno que uma quantidade enorme de agentes migrando para a Bolsa geraria no seu bolso.

Além disso, a perspectiva favorável à eleição de um candidato “pró-reformas” no segundo semestre possibilita o entendimento de continuidade de melhores estruturais na economia, preparando o terreno para o retorno, no longo prazo, dos lucros às firmas.

Segundo a teoria clássica de investimentos, tais lucros, com o passar do tempo, começam a se refletir nos preços. Mais vale, nesse caso, a leitura assertiva do movimento do que um bom stock picking.

Por quê? Justamente pelo fato de que, no cenário traçado, é contundente um bull market generalizado. Portanto, basta estar comprado em Bolsa por meio de um ETF, por exemplo, para participar desses ganhos.

Para os mais audaciosos, é justificável uma posição em empresas de Beta elevado, tendo em conta que, quando a Bolsa sobe, historicamente, determinadas companhias costumam andar mais do que a própria Bolsa em si.

Para abraçar a recuperação econômica, por sua vez, às ações já apresentadas somam-se empresas com melhoras operacionais previstas, e alinhadas com um aumento da demanda por seus produtos.

Concluo a tese retomando o racional de comprarmos Bolsa, uma vez que considero a prisão de Lula um trigger para os ativos de renda variável.

E agora? Após ter acesso às visões dos nossos melhores especialistas, você já pensou em como vai investir nos próximos meses?

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