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No mais recente livro de Nouriel Roubni, Grandes Ameaças, lançado em outubro deste ano, o autor nos fala sobre 10 grandes ameaças globais e como sobreviver a elas.
Roubni fez o seu nome na crise de 2008, com visões muito pessimistas, ficou conhecido como "Dr. Doom". Bem, há um realismo admirável em seu trabalho, então, vamos começar a edição de hoje falando sobre cinco dessas 10 ameaças!
O primeiro tema é o grande envidamento global, não somente dos governos, mas também, das grandes corporações. Se nos anos 70 o total das dívidas brutas em relação ao PIB era algo inferior a 100%, hoje, esse total já se aproxima dos 400%.
Quando um país ou uma empresa apresenta altas dívidas, isso acaba sendo o motivo de muito estresse, manifestado através dos compromissos para os pagamentos de juros das dívidas, sejam esses mensais, semestrais ou anuais. Isso acaba impedindo que as empresas invistam em Capex, em novas ideias e em desenvolvimentos que promoveriam mais crescimentos a elas.
Tivemos a Covid que, sem dúvidas, foi uma grande ameaça, entretanto, combatida com mais e mais endividamento. Hoje, vemos a inflação mais elevada, mais problemas em países fronteiriços e uma série de questões que tendem a se intensificar.
Uma segunda grande ameaça é a questão demográfica, que diz respeito ao envelhecimento da população. Há quem pense que quando a população envelhece, isso traz deflação, mas não, o que acontece é o contrário!
E, essa compreensão vem, muitas vezes, devido à questão japonesa. Muitas pessoas associam essa deflação ao problema do envelhecimento japonês acelerado. Mas, o Japão é um caso em particular. Por lá, houve um problema de falta de capitalização dos seus bancos após a grande bolha que aconteceu durante os anos 80 no país, onde o enfrentamento das concorrências se agravaram, principalmente quando falamos da Coreia do Sul, Taiwan e da própria China.
Bem, tudo isso vem contribuindo para um cenário mais deflacionário por lá, mas, a verdade é que essa questão sobre o envelhecimento é um problema inflacionário, pois, as pessoas mais velhas passam a ter um maior custo com saúde. E com isso, há diversas ramificações no que diz respeito ao envelhecimento dos fundos de pensão. Nos Estados Unidos, por exemplo, estes estão subcapitalizados, correndo mais riscos.
Mas, ainda sobre as questões demográficas, vale citar aqui uma análise feita por Louis Gave, onde o estrategista cita um exemplo de como mudanças demográficas, ocorridas no México, tem uma relação direta com o que ocorre nos Estados Unidos em termos de inflação através da forte emigração.
Louis cita que, nos anos 70, uma mãe mexicana tinha em média de 6 a 8 filhos, e aqueles que nasceram nos 80, contribuíram muito para achatar os salários nos Estados Unidos porque em 1982 os EUA enfrentava uma alta inflação, elevando significativamente os juros, e esse processo ajudou a criar uma crise na América Latina. O México quebrou e o movimento emigratório para os Estados Unidos se intensificou.
Naturalmente, a queda da inflação não foi somente devido ao movimento emigratório mexicano, mas esse movimento contribuiu fortemente.
Em 1994, também no México, aconteceu o ‘efeito tequila’ que contribuiu para um novo movimento emigratório mexicano, achatando, novamente, o salário nos Estados Unidos que por consequência contribuiu para uma série de eventos na época, como foi o Nafta.
Mas, hoje, a taxa de natalidade no México despencou e isso levanta discussões sobre a taxa necessária para a reposição da população, de forma que não devemos contar mais esse movimento emigratório que tanto ajudou a inflação e as pressões salariais norte-americanas.
Já a terceira questão é apresentada de uma forma mais clássica na Gavekal, em particular, Charles Gavekal nos fala sobre o seguinte: o alto custo do dinheiro barato. Quando se traz a taxa de juros para zero, como ocorreu nos Estados Unidos, na Europa e também no Japão, uma série de problemas acontece. A engenharia financeira é diretamente afetada, como visto nas criptomoedas, nas Meme Stocks, na ação da empresa Carvana e também nas diversas ações que compõem a carteira da gestora Cathie Wood, as famosas 'Ações da Insanidade', essas que de fato se provaram atos insanos em 2020 e 2021.
E, agora vemos uma forte correção e isso está entre um dos altos custos do dinheiro barato, embora essa questão não seja nenhuma novidade.
O quarto tópico refere-se à desglobalização, um tema muito recorrente por aqui na Global Investor, que tem muito a ver com a reciclagem de dólares. No passado, tínhamos uma situação na qual o preço do petróleo subia e os países do Oriente Médio ficavam mais ricos, reciclando os dólares nos Estados Unidos, comprando armamentos, investindo em títulos ou em ações norte-americanas.
Agora, com a guerra entre a Rússia e Ucrânia e o confisco dos bens Oligarcas russos, o que se observa é uma situação diferente. Esse confisco não transitou por meios jurídicos tradicionais e isso, certamente, vem assustando muitos milionários que, com certeza, estão buscando outras alternativas para o seu dinheiro. Com essa dinâmica, a reciclagem dos dólares é afetada e as consequências recaem sobre a precificação dos ativos globais.
O dinheiro tende a ficar mais globalizado, algo que pode ser muito bom para o nosso país, mas é claro, se o Brasil fizer o seu dever de casa.
E para finalizar, Nouriel Roubini, assim como Louis Gave no seu livro Too Different for Comfort, publicado em 2013, ambos os autores discutem o efeito associado à inteligência artificial e as consequências que isso pode trazer para o mercado de trabalho. Esse é um tema que aborda discussões para a singularidade e que traz grandes preocupações, como a disrupção no mercado. Uma preocupação um pouco mais distante, mas que já se faz presente no horizonte de todos nós.
Aguardo você na próxima edição!
Um grande abraço,
Marink Martins.