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O impulso creditício chinês é um tema já apresentado aqui como um dos mais importantes catalisadores para uma melhor performance de mercados emergentes.
Se no começo de dezembro havia indícios de uma retomada desses mercados, quando o IBOV saiu de 101 para quase 110 mil pontos, logo em seguida vimos uma apatia nesse movimento, que julgo ser fruto das instabilidades políticas e problemas locais, e também, em parte, de uma frustração no que diz respeito a essa retomada do índice do crédito do gigante asiático.
O brasileiro se foca mais para essas questões “domésticas”, e, por outro lado, o investidor internacional enxerga o Brasil como um país de matérias-primas e commodities, um país de investimento cíclico muito associado ao crescimento chinês.
Entretanto, todo o mundo caminha com um viés mais cético com relação às possibilidades de que 2022 possa ser um ano de forte valorização dos ativos chineses.
No passado, todas as vezes em que o impulso creditício retomou positivamente, as ações performaram bem. Então, o que explica o ceticismo em 2022?
Esse será um ano diferente para a China, um ano que requer certas estabilidades, com a necessidade de manutenção no status quo. Afinal, as olimpíadas de inverno em fevereiro já estão próximas, há um certo boicote parcial proveniente dos Estados Unidos e, mais importante, ao final do ano, aqui no Brasil, as eleições presidenciais vão acontecer, e na China, a vigésima reunião do centenário Partido Comunista Chinês. Essa reunião deverá alçar Xi Jinping como um líder eterno para o país
E para isso ocorrer, a China deve continuar seguindo a política aplicada em 2021. Política esta que foi classificada até mesmo como “Brutal e Imprevisível”. Essa postura contundente não apenas afeta o empreendedorismo chinês como afeta o “animal spirit” do investidor global.
O investidor global não olha para os ativos chineses com bons olhos e como consequência deixa também os ativos brasileiros de lado.
E não menos importante, lembremos que a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China se faz presente desde 2018. Há uma frente comercial, uma frente monetária e também uma frente tecnológica.
A frente monetária conta com um enorme foco por parte dos Chineses, afinal, eles vem mantendo a sua moeda apreciada com muitas oportunidades devido à pandemia evitando uma grande saída de dólares do país. A China vive um processo de desdolarização. Com diversas aberturas para inúmeras oportunidades.
Na frente tecnológica há certos avanços e algumas medidas que vêm se intensificando por parte dos Estados Unidos. Os EUA, através da sua secretária de comércio, Gina Raimondo, disse “devemos frear o ímpeto de inovação Chinês". Obviamente, isso não soou nada bem.
No 14° plano quinquenal da China, ficou claro que o país começou a focar em hardware ao invés de internet de consumo. A China deseja se afastar do modelo dos Estados Unidos que é praticado no Vale do Silício, onde há dificuldades na contratação de engenheiros e profissionais e também da engenharia financeira que prevalece nos EUA.
E a China, por ter um governo totalitário, consegue promover esse tipo de transformação de forma muito mais rápida, mas, em simultâneo, muito dolorosa para os seus locais.
Diante disso, é nítido que o foco se volta totalmente para o lema do país, “common prosperity” (prosperidade comum) desde o ano passado. Nesse sentido, a China vem focando no desenvolvimento de semicondutores e dominando cada vez mais a tecnologia, e mais, evidenciando o desenvolvimento de uma máquina de litografia (produto essencial no desenvolvimento de semicondutores), e que até o momento, tal tecnologia é dominada apenas pela empresa holandesa ASML.
Lembrando, a empresa ASML, recentemente, foi proibida de vender seus produtos para a China por motivação americana.
Tanto a frente monetária como a frente tecnológica na China tendem a se intensificar nos próximos anos.
A retomada do impulso creditício Chinês, até o momento, está sendo um tanto frustrante, e julgo que mesmo que esse impulso volte com uma maior intensidade, não será suficiente para fazer com que os mercados emergentes como o brasileiro retome o crescimento no patamar esperado.
Espero que tenha gostado dessa edição!
Um abraço,
Marink Martins.