Global Investor #32: Reciclagem de dólares

22 de dezembro de 2021
Há uma mudança comportamental no que diz respeito à forma pela qual os estrangeiros vêm reciclando seus dólares nos EUA. E, nesta edição, Marink Martins compartilha gráficos e faz a relações que ilustra precisamente esse ciclo!

 

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Há um ciclo econômico, o qual o dólar do estrangeiro é o que está sustentando a bolsa americana e o S&P500.

Em um determinado momento, ao ter uma certa adversidade econômica, os Estados Unidos estimulam a sua economia via políticas fiscais e monetárias.

Existe um processo de criação de dólar e de "injeção" de liquidez na economia, implicando que as ordens e os pedidos de bens duráveis cresçam e que os EUA, eventualmente, comecem a importar novos produtos. 

Ao importar, o país transfere os dólares para o exterior. E, quando a moeda chega no exterior, uma parte é retida por empresas e a outra parte é vendida para o banco central de determinado país.

É o exemplo da mineradora multinacional brasileira Vale S.A. A empresa recebe os seus dólares e vende um excedente para o Banco Central do Brasil que, por sua vez, compra os títulos do tesouro do Estados Unidos.

Esses títulos ficam depositados no Fed (sistema de bancos centrais dos Estados Unidos) e detêm uma estatística interessante associada. 

Esse é um movimento mais tradicional, entretanto, o gráfico a seguir, oriundo de um artigo preparado por Charles Gave, estrategista da casa de pesquisa Gavekal, ilustra um ciclo dos últimos 50 anos da entrada e da saída de dólares na conta do Fed.

Confira:

 

De acordo com o gráfico, é possível observar ciclos de expansão e de retração nos mercados. 

Quando há abundância de dólares e os diversos bancos centrais possuem um excedente da moeda, normalmente, ciclos de expansão acontecem. Porém, quando os problemas surgem (como foi o caso da crise asiática e outras crises globais) e há uma escassez de dólares, aqui acontece, normalmente, uma retração.

Entretanto, nos últimos 10 anos, é nítido observar uma mudança comportamental.

O dólar parou de crescer. O saldo dos bancos centrais no Fed, já não avançam… Então, por que esse cenário de estagnação permanece mesmo com as grandes importações do Estados Unidos?

A quantidade de dólares transferida para a Europa, China, Brasil e outros países é maior se comparada ao saldo dos bancos centrais do Fed.

Por que esses dólares não retornam aos EUA? Esse é um enigma!

Para entender um pouco melhor essa incógnita, apresento um segundo gráfico, esse proveniente do NIIP (Net international investment position) dos EUA:

 

 

O gráfico acima ilustra e compara o saldo que os Estados Unidos possui no exterior e o saldo que os estrangeiros detêm investido nos Estados Unidos.

O saldo é negativo para os EUA e os estrangeiros têm, hoje, cerca de 16 trilhões de dólares em ativos no país. 

Uma boa parcela desses dólares, que antes migravam via banco central, estão sendo direcionados diretamente para as ações, sustentando o S&P500 por um processo de indexação que toma conta do mundo, via bancos centrais até grandes empresas, fundos de pensão e pessoas físicas que investem diretamente nos EUA. 

Quando se soma o valor de mercado das maiores empresas do S&P (Apple, Microsoft, Google, Amazon, Facebook, Tesla e Nvidia)  o valor de mercado dos títulos de 10 anos em circulação nos EUA já é superado.

Esse é um dado impressionante! 

Não há grandes riscos de crédito, mas, naturalmente, há um risco de prazo.

Apesar de o período de 10 anos ser considerado um título curto, uma ação é um título de longa duração sem prazo de vencimento. Quanto mais longo for um prazo de determinado título, mais vulnerável é o preço, afinal, mudanças nas taxas de juros acontecem!

Esse é um grande dilema no que diz respeito à inflação e há quem diga que ela não é transitória e possui características estruturais, que irá subir, que há um déficit sobre a demanda por petróleo e será necessária uma reação por parte dos bancos centrais e afins.

O Fed, mesmo mantendo a estratégia de se posicionar “atrás” da curva, optando por deixar a taxa de juros reais negativa, não terá opção, e precisará se movimentar. E, caso isso aconteça, os ativos de longa duração vão sofrer com a possibilidade de retração! 

Esse é um tema que vem sendo repetitivo, mas essa edição detém um objetivo em particular, realizar uma relação entre os dados apresentados por Charles Gave dos últimos 50 anos e os diversos momentos em que houve escassez de dólar dos quais crises globais aconteceram.

Mas há uma ressalva! Dessa vez é diferente!

Essa diferença é comportamental e envolve uma preferência por ativos que antes, no passado, eram considerados arriscados e hoje, são considerados como “portos-seguros”.


Espero que tenha gostado dessa edição!


Um abraço, 
Marink Martins.

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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