Global Investor #28: Mãos Fortes e Mãos Fracas

10 de novembro de 2021
Há um descompasso entre a performance registrada pelo índice S&P 500 e o que está em curso ao redor do mundo. Mesmo assim, o S&P nos desafia, registrando máxima atrás de máxima.

Bem-vindo(a) a mais uma Global Investor!

Antes de entrar no tema de hoje, é importante que entenda o momento que estamos vivendo, um momento de euforia; eu, inclusive, venho falando constantemente sobre fluxos e sazonalidades. 

Mas quando falo de euforia, naturalmente, estou falando sobre o mercado de opções e sobre o mercado norte-americano.

Estamos no fim do período de divulgação de resultados do terceiro trimestre nos EUA, e os resultados foram bons, acima das expectativas. 

Na última newsletter que publiquei, citei que há uma tensão entre os analistas e o mercado. Os analistas estavam mais conservadores durante esse terceiro trimestre nos EUA e, tratando-se do S&P, eles estimavam um resultado consolidado de 49 dólares; mas, o resultado real e atual está se materializando entre 53 e 54 dólares.

Mais uma conquista para o mercado. 

As margens líquidas das 500 maiores empresas dos EUA estão por volta de 13%, bem acima da média histórica, 11%, e o mercado segue nas máximas em um momento em que é possível enxergar problemas ao redor do mundo.

A China está desacelerando, uma crise energética expressiva, em particular no Reino Unido, onde há uma possibilidade de recessão em 2022.

Quando o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) foi anunciado em 2016, ocasionou diversos impactos no mercado e, agora, os problemas associados a ele se fazem presentes. 

É possível afirmar que o mercado reage de forma análoga ao que ocorreu em 2016? A resposta é não! 

Longe disso… Temos uma crise no Brasil de cunho político, mas que provoca altas nas taxas de juros e faz com que as bolsas e o consumo do Brasil caiam. 

Embora o Brasil não seja, hoje, tão importante como foi no passado, ainda é uma economia com relevância global. 

E todos esses tópicos que abordei acima trazem uma questão importante: Por que o S&P não sai da máxima?

Acredito que isso está relacionado à “call mania” que venho discutindo nas edições da Global Investor e um dos cinco desaforos em Wall Street que trouxe na semana passada; essa febre especulativa que se faz presente nos Estados Unidos e se manifesta através do mercado de opções. 

Os mercados no exterior estão subindo muito, há também uma forte participação das pessoas físicas que entram no mercado de derivativos comprando opções de compra, títulos de curta duração.

Se observamos os contratos em aberto, por exemplo, do ETF SPDR (Standard & Poor's Depository Receipts, ou "spider"), associado ao S&P, são muitos os contratos cujo preço é de 470 dólares, com o vencimento para o dia 19 de novembro. E é aí que se concentra boa parte dessas apostas. 

No mercado de opções, muitas vezes, falamos sobre “mãos fortes e mãos fracas”, a posição em que se encontra cada um.

Aquele que vende as opções não só necessita ter garantias, mas também uma boa compreensão da gestão de risco.

aquele que compra pode, simplesmente, comprar e tratar essa compra como uma simples aposta. 

Agora, é possível observar nitidamente  nos Estados Unidos que os “mãos fortes” são os dealers, os formadores de mercado, ou market makers, instituições que têm como compromisso manter ofertas de compra e venda a todo tempo. Normalmente, são bancos bem capitalizados e com uma gestão de risco profissional. 

Basta olhar para os resultados do Goldman Sachs e verificar que esses negociantes estão apresentando resultados excepcionais, não apenas através de vendas de opções, mas por participações em IPOs, operações de M&A (Mergers and Acquisitions, fusões e aquisições), etc.

O ano está sensacional para esses dealers, que estão tirando proveito dessa febre especulativa que se faz presente no mundo das pessoas físicas.

Se o preço no contrato básico do S&P subir devagar, de forma a iludir o comprador de opções, fazendo com que ele acredite que será uma história de sucesso, quando esse contrato estiver próximo do vencimento, o mercado corrige esse preço, fazendo com que o prêmio pago pelo titular seja transferido para o “mão forte”

Essa é uma narrativa provável e penso que a estrutura do mercado atual caia como uma boa explicação sobre o porquê de o S&P 500 manter-se nas alturas. 

Julgo que todas essas questões que estamos acompanhando são transitórias e estão prestes a terminar. É apenas uma questão de ciclo especulativo com data marcada.

O tempo vai dizer!

Espero que tenha gostado.

 

Um abraço,

Marink Martins.  

 



 

Conheça o responsável por esta edição:

Marink Martins

Especialista em Opções e Mercados Globais

Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principais estratégias de investimento em Wall Street.

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