Do Mercado #72: Muita coisa vai mudar de rumo um dia depois da eleição

11 de outubro de 2022
Com a aproximação do 2º turno eleitoral, a economia brasileira já enxerga um horizonte. Mas, por que será que precificar em altos níveis o dólar-câmbio, a nossa Bolsa, a curva de juros e a nossa produção de petróleo é algo ruim para o mercado?
 

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Se compararmos em termos absolutos, desde os resultados das eleições do primeiro turno, o mercado andou bastante. Não somente a bolsa, mas o dólar e o pré se comportaram de modo diferente de praticamente todos os países. E, durante a semana passada, o S&P subiu 6% e refletiu de forma positiva por aqui quando vimos altas de quase 12% em nossa Bolsa. 

Mas, ainda vale a pena comprar posições nos atuais preços? Bem, se você acredita que o candidato Jair Bolsonaro tem a chance de virar e ganhar no segundo turno e, supondo que o mercado externo se estabilize e permaneça em 3.700 pontos, mesmo assim, a Bolsa norte-americana continua cara e, aquelas ações que foram as mais visadas desde o início das eleições presidenciais aqui no Brasil, acabaram "perdendo o foco" devido ao cenário externo. 

Um exemplo disso foi que, na segunda-feira passada (3), tanto Petrobras quanto Banco do Brasil subiram quase 9%, começando a ficar pesados, principalmente Petro, o principal gatilho do mercado nesse rally desde a eleição. E, analisando o quanto a Bolsa subiu no ano (por volta de 12%), quase 8% de todo esse efeito foi proveniente da ação de Petrobras. 

Entretanto, agora, o cenário é complicado para a empresa porque conforme o preço do petróleo no cenário internacional for caindo, a petrolífera vai cortando os preços do petróleo, e é neste sentido que o contraste entre o Brasil e o exterior se mostra uma problemática, pois, o preço da commodity já voltou a subir lá fora e continuamos a vendê-lo por um valor abaixo do mercado internacional.

Para o próximo mês é provável que, com as possíveis altas no preço do petróleo e olhando o momento eleitoral, será bem difícil que a Petrobras suba o preço dos combustíveis. Logo, isso significa um prejuízo antecipado para a maior empresa da Bolsa brasileira. 

Com o petróleo subindo no curto prazo e uma ação que já apresenta um técnico ruim (muitas pessoas compraram as ações de Petro apostando na melhora de Bolsonaro), a ação da estatal está em uma situação bem complicada.  
 

Bem, é certo que ao passar dos dias e com o nível de risco global, essas previsões alteram-se! Mas, essa é uma época do ano em que é possível que tenhamos um fluxo bem negativo porque as matrizes gringas podem tentar retirar tudo o que for possível de fluxo de capital do nosso cenário interno. Portanto, em termos de fluxo, devemos ter um final de ano bem apertado. 

Outra questão relevante para se atentar é o diferencial de juros que está começando a chegar em um patamar desconfortável para o câmbio, pois, caso os juros cheguem ao nível de 4,5 e 5% no exterior (onde por aqui já temos no DI Jan/25 - cotação de juros futuros - no final de ciclo de queda entre 9 e 10%), o nosso diferencial de juros é de 5%. 

Na história do Brasil, isso pode ser uma previsão de low, deixando o real em uma situação mais sensível, uma vez que as moedas de outros países — mais competitivas –, que estão subindo os seus juros, caíram mais com o real, dado que o nosso diferencial de juros tende a diminuir. 

Já o mercado de pré não tem muito espaço para andar para ambos os cenários políticos (Bolsonaro ou Lula) porque, basicamente, as pessoas estão ignorando as discussões fiscais e se atentando muito às pesquisas e alianças políticas. Seguimos observando o fiscal se deteriorando na margem. A expectativa é por posturas populistas entre os dois candidatos, sendo mais um fator visivelmente ignorado para a estrutura de taxa de juros. 

Com o candidato Lula à frente do favoritismo e analisando as discussões e as dissonâncias dentro do Partido dos Trabalhadores, neste sentido, os preços do mercado financeiro têm uma grande influência. 
 

Um grande abraço,
Rodrigo Natali.  

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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