Do Mercado #21: Intervenções Inesperadas e Nebulosas

11 de outubro de 2021
Hoje, comento sobre um tipo de comportamento que não é nada saudável para a economia, para o mercado de câmbio e para o mercado de maneira geral; as intervenções nebulosas do Banco Central do Brasil.

 

Olá! 

Olá, sou Rodrigo Natali, e esta é mais uma "Do Mercado"!

Hoje faz duas semanas desde que o banco central iniciou as intervenções no câmbio. 

O anúncio foi feito no final de setembro, quando o Banco Central afirmou que realizaria leilões de venda de dólar via swap em 700 milhões de dólares toda terça-feira e quinta-feira até o final do ano para conter a saída de overhedge

Desta vez, as coisas foram um pouco diferentes… Inclusive, comparando com a última vez que isso aconteceu, em 2020.

Antigamente, quando tínhamos essas saídas sazonais, o Banco Central não vendia dólar direcional, muito menos via swap (um tipo de derivativo, uma operação de troca de rentabilidade de ativos financeiros). 

O problema é que o mercado ficava com pouco spot, pouco dólar, e as remessas para fora buscavam, normalmente, dividendos de uma filial no Brasil sendo enviada para o exterior. Um swap não conseguia servir esse propósito.

O mercado tinha que enviar reservas e acabava ficando sem nada, então o Banco Central fazia o que chamamos de "leilão casado”, quando realizava uma oferta de dólar (spot) e, em contrapartida, fazia um contrato futuro, fazendo com que o efeito dessa venda no preço fosse nulo.  

É como se o Banco Central não segurasse o câmbio ou, não vendesse o dólar direcionalmente. E isso até mesmo com um tipo de leilão, o leilão de linha, quando o Banco Central empresta dólar para, eventualmente, quem fez esse empréstimo devolver quando tiver uma entrada, dado que o mercado é livre. 

O que aconteceu no ano passado, até mesmo em decorrência da violência dos movimentos em todos os ativos, foi que o Banco Central começou a vender os dólares via swap

E, neste ano, lançando um lote total de 14 bilhões de reais, as vendas já começaram desde o final do mês de setembro. 

É interessante entender que isso aconteceu justamente quando o dólar bateu uma máxima. 

E ainda, em simultâneo, estamos vendo que o Banco Central pretende subir os juros mais do que deveria, uma inflação que continua em alta, principalmente sobre os IPCS (Índice de Preços ao Consumidor), e com as últimas estimativas de alta dos juros só aumentando. 

O incômodo não é só pelo nível do câmbio per se, mas também pelo efeito que pode ter agora na inflação.

Bom, depois do anúncio dos leilões, o mercado não caiu nem mesmo um pouco, ele subiu imediatamente. Com isso, o Banco Central anunciou um leilão extra, mais 700 milhões de reais. 

Se o Banco Central vender 700 milhões de reais diariamente, o número chegará a 40 bilhões de reais até o final do ano.  

Não sabemos se isso se concretizará, mas, mesmo assim, o mercado continuou subindo. 

Até que o Banco Central anunciou que realizaria um leilão de 500 milhões no mesmo dia do anúncio, 5 de outubro.

O anúncio foi feito por volta das 16h, horário em que o mercado já está um pouco menos líquido e mais sensível.

A desculpa para esse tipo de intervenção, sempre é a mesma: a falta de liquidez é a determinante para a entrada do Banco Central.

E a falta de liquidez era possível de ser identificada quando a nossa moeda operava fora do padrão das outras moedas globais, mas nem mesmo essa regra está sendo respeitada hoje em dia. 

Na grande maioria dos dias em que tivemos as intervenções e o aumento do lote das intervenções, o dólar estava se apreciando contra todas as moedas do mundo, é um movimento global. 

Desde o começo do mês de junho, o dólar apresenta uma alta de 6% contra todas as moedas e, mesmo assim, o Banco Central continua a insistir em uma política errática, na qual não há explicações para seu método de intervir apenas quando o preço sobe, mas não quando elementos mais objetivos e técnicos acontecem.

Isso, a meu ver, dá a entender que o Banco Central está tentando defender o preço. Ao mesmo tempo, essa é uma forma errática de operar, e isso acaba tornando o mercado brasileiro desconectado do mercado exterior. Não somente o de câmbio, mas também o de bolsa.

E, durante a semana passada, enquanto o mercado interno piorou, o externo melhorou. 

E vise e versa. 

Isso acontece porque como os valores de câmbio são muito grandes e impactantes, as pessoas que, por exemplo, desejam comprar uma exportadora, vão pensar muito mais. O preço vai subir livremente ou o Banco Central vai segurar?

Afinal de contas, uma das grandes defesas contra a inflação ou contra uma piora do cenário é o câmbio! E quando o Banco Central tem essa postura de segurar "na marra", ele tira uma forma de defesa do investidor. 

Vimos que essa nebulosidade afetou os preços da bolsa, das exportadoras, de pequenas empresas etc. E esse impacto negativo, às vezes, não é muito comentado pelas pessoas, pois existe uma convicção que se o dólar cair é algo positivo! E que o ideal é que o dólar suba e caia rápido.  

A verdade é o ideal ser que o câmbio tenha a liberdade de oscilar, justamente para beneficiar nossas defesas. 

Temos a vantagem de que as nossas maiores empresas conseguem trazer capital e equilibrar as coisas; assim, temos um ciclo saudável em que o mercado se auto-ajusta.

Porém, as pessoas tendem a gostar desse tipo de intervenção; e quando não funciona, só gera mais exaltação, pedindo cada vez mais do BC. 

Um tipo de comportamento que não é nada saudável para a economia, para o mercado de câmbio e para o mercado de maneira geral. 

É uma pena, pois é assim que funciona o hoje em dia!

 

Espero que tenha gostado!


Um abraço,

Rodrigo Natali.

 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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