Do Mercado #15: Por que a China é do contra?

30 de agosto de 2021
O mercado chinês está desalavancado; o governo começou a colocar estímulos de volta na economia e algumas pessoas já imaginam que possa vir a cortar os juros… Com isso, a China seria o único país na ponta contrária. 

Hoje, vamos falar sobre a desalavancagem do mercado chinês. 

Em fevereiro, o governo chinês começou uma série de medidas para fazer com que a população fosse forçada a fazer uma desalavancagem financeira, ou seja, "desendividar-se". 

Isso fez com que, aos poucos, os cidadãos chineses corressem menos risco de mercado e, assim, estivessem menos propensos a ter prejuízos no caso de uma correção inesperada.

Para fazer isso, o governo chinês começou a atacar um ativo por vez.

Naquele momento, em fevereiro, as commodities seguiam um caminho de alta desde o ano passado. Alta que puxou todas as empresas do setor, inclusive algumas brasileiras, como Vale e Suzano.Changpeng Zhao

Então, vendo que o fluxo de seu próprio mercado local de futuros era muito mais de especulação que hedge, proteção, a China atacou esse mercado, o que causou um crash que fez com que os especuladores praticamente saíssem do mercado, o que acabou por se refletir nas commodities e os efeitos são sentidos até hoje. 

Se você parar para observar, o preço das commodities oscilou bastante; pela mídia, tem-se a impressão que está muito pra baixo, mas, no fundo, não é bem assim.

Hoje, estamos praticamente a 2% da máxima histórica.

Então veio o segundo ataque, desta vez o alvo foi o mercado de criptomoedas.

O governo chinês proibiu qualquer tipo de pagamento em cripto e, na sequência, proibiu a mineração; na semana passada, proibiu que as máquinas desligadas fossem vendidas a outros países.

Depois a atenção voltou-se para o mercado de tecnologia… começou a atacar o "Facebook" de lá, o Weibo, e entrou na plataforma de games.

Afinal, qual era a ideia?

Primeiramente, desalavancar empresas com múltiplos muito altos. Começou lá atrás com o Jack Ma, que foi proibido de vender o Ant Group, braço financeiro da Alibaba e, desde então, o governo chinês praticamente "estatizou" a empresa.

Hoje em dia, a China quer que o mercado de tecnologia foque mais na produção de hardware e chips, que inclusive, é um dos gargalos da economia mundial atualmente.

E então a China entrou com muita força no mercado de educação, que, além de ter um valor estratégico para que o governo comece a doutrinar as pessoas desde uma idade mais jovem, também é um setor que vinha crescendo muito e estava ficando caro para a população.

E tem mais… posteriormente miraram no setor de alto luxo, criticaram dizendo que isso não é uma atitude democrática e admirável, basicamente que as pessoas deveriam controlar seus gastos. 

Consequência: ao longo desse período, a bolsa chinesa foi das máximas para uma queda de 20% na semana passada.

Se isso acontecesse no S&P 500, índice da bolsa norte-americana, que bateu na semana passada mais um recorde, com certeza o Fed viria a público, fundos quebraram, investidores ficariam desesperados, enfim…

No entanto, há uma diferença: o governo chunes causou isso de propósito. Por quê?

Diferentemente do mercado ocidental, é como se estivessem ficando prontos para um próximo momento em que estímulos serão necessários.

Enquanto esse governo força, na marra, as pessoas a se desalavancarem, no governo norte-americano é o contrário.

Quando tem uma reunião do Fed ou um pronunciamento como o da última sexta-feira, dia 27, as pessoas medem cada palavra para entender se o ritmo que o mercado espera pode mudar. 

Na China, eles fazem o contrário do que o mercado espera, doa a quem doer e custe o que custar.

Isso tem algumas vantagens, claro: o mercado chinês está desalavancado; o governo chinês começou a colocar estímulos de volta na economia e algumas pessoas já imaginam que possa vir a cortar os juros…

Com isso, a China seria o único país na ponta contrária. 

O país fez ajuste de uma forma muito agressiva, e só conseguem fazer isso porque controlam todos os ativos da economia.

Se amanhã a China quiser que o minério de ferro suba, por exemplo, ele vai subir.

Diferentemente daqui, que não temos controle direto. Lá, eles têm controle de toda a economia, usaram isso claramente para desalavancar, enquanto o resto do mundo está na outra ponta, completamente alavancada.

Se amanhã tivermos uma queda brusca nas bolsas mundiais, a China aparentemente está pronta para revidar e sair na frente, como fez, inclusive, no início da pandemia.

 

Por hoje é isso, espero que tenha gostado.

Um abraço,

Rodrigo Natali


 

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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