Hoje, vamos falar sobre a desalavancagem do mercado chinês.
Em fevereiro, o governo chinês começou uma série de medidas para fazer com que a população fosse forçada a fazer uma desalavancagem financeira, ou seja, "desendividar-se".
Isso fez com que, aos poucos, os cidadãos chineses corressem menos risco de mercado e, assim, estivessem menos propensos a ter prejuízos no caso de uma correção inesperada.
Para fazer isso, o governo chinês começou a atacar um ativo por vez.
Naquele momento, em fevereiro, as commodities seguiam um caminho de alta desde o ano passado. Alta que puxou todas as empresas do setor, inclusive algumas brasileiras, como Vale e Suzano.Changpeng Zhao
Então, vendo que o fluxo de seu próprio mercado local de futuros era muito mais de especulação que hedge, proteção, a China atacou esse mercado, o que causou um crash que fez com que os especuladores praticamente saíssem do mercado, o que acabou por se refletir nas commodities e os efeitos são sentidos até hoje.
Se você parar para observar, o preço das commodities oscilou bastante; pela mídia, tem-se a impressão que está muito pra baixo, mas, no fundo, não é bem assim.
Hoje, estamos praticamente a 2% da máxima histórica.
Então veio o segundo ataque, desta vez o alvo foi o mercado de criptomoedas.
O governo chinês proibiu qualquer tipo de pagamento em cripto e, na sequência, proibiu a mineração; na semana passada, proibiu que as máquinas desligadas fossem vendidas a outros países.
Depois a atenção voltou-se para o mercado de tecnologia… começou a atacar o "Facebook" de lá, o Weibo, e entrou na plataforma de games.
Afinal, qual era a ideia?
Primeiramente, desalavancar empresas com múltiplos muito altos. Começou lá atrás com o Jack Ma, que foi proibido de vender o Ant Group, braço financeiro da Alibaba e, desde então, o governo chinês praticamente "estatizou" a empresa.
Hoje em dia, a China quer que o mercado de tecnologia foque mais na produção de hardware e chips, que inclusive, é um dos gargalos da economia mundial atualmente.
E então a China entrou com muita força no mercado de educação, que, além de ter um valor estratégico para que o governo comece a doutrinar as pessoas desde uma idade mais jovem, também é um setor que vinha crescendo muito e estava ficando caro para a população.
E tem mais… posteriormente miraram no setor de alto luxo, criticaram dizendo que isso não é uma atitude democrática e admirável, basicamente que as pessoas deveriam controlar seus gastos.
Consequência: ao longo desse período, a bolsa chinesa foi das máximas para uma queda de 20% na semana passada.
Se isso acontecesse no S&P 500, índice da bolsa norte-americana, que bateu na semana passada mais um recorde, com certeza o Fed viria a público, fundos quebraram, investidores ficariam desesperados, enfim…
No entanto, há uma diferença: o governo chunes causou isso de propósito. Por quê?
Diferentemente do mercado ocidental, é como se estivessem ficando prontos para um próximo momento em que estímulos serão necessários.
Enquanto esse governo força, na marra, as pessoas a se desalavancarem, no governo norte-americano é o contrário.
Quando tem uma reunião do Fed ou um pronunciamento como o da última sexta-feira, dia 27, as pessoas medem cada palavra para entender se o ritmo que o mercado espera pode mudar.
Na China, eles fazem o contrário do que o mercado espera, doa a quem doer e custe o que custar.
Isso tem algumas vantagens, claro: o mercado chinês está desalavancado; o governo chinês começou a colocar estímulos de volta na economia e algumas pessoas já imaginam que possa vir a cortar os juros…
Com isso, a China seria o único país na ponta contrária.
O país fez ajuste de uma forma muito agressiva, e só conseguem fazer isso porque controlam todos os ativos da economia.
Se amanhã a China quiser que o minério de ferro suba, por exemplo, ele vai subir.
Diferentemente daqui, que não temos controle direto. Lá, eles têm controle de toda a economia, usaram isso claramente para desalavancar, enquanto o resto do mundo está na outra ponta, completamente alavancada.
Se amanhã tivermos uma queda brusca nas bolsas mundiais, a China aparentemente está pronta para revidar e sair na frente, como fez, inclusive, no início da pandemia.
Por hoje é isso, espero que tenha gostado.
Um abraço,
Rodrigo Natali