Do Mercado #30: Com base nas incertezas

13 de dezembro de 2021
A última reunião do Copom aconteceu, e com ela, o que já era esperado, a situação se torna ainda mais preocupante, Rodrigo Natali traz a íntegra do último evento!
 

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A última reunião do Copom do ano aconteceu na semana passada e resultou numa alta da taxa de juros de 1.5%.

Essa era uma decisão amplamente esperada, pois, na última ata, o Banco Central havia adiantado que o ritmo iria se manter.

Nos preços dos ativos futuros já era perceptível que havia um consenso de que os 1.5% iriam se consolidar, isso foi se intensificando conforme a data da reunião do Copom se aproximava com alguns chegando a estimar que poderia atingir a quase 200 pontos basis, isto é, 2.0%.

Alguns fatores mais positivos para a economia fizeram com que os 1.5% chegassem.

No entanto, a parte mais importante da ata nem mesmo foi a decisão dos juros durante a reunião, mas sim a indicação do que deve ocorrer na próxima reunião.

Diante disso, três coisas diferentes poderiam ter acontecido…

Começando por uma hipótese que não aconteceu:

O BC, baseado na economia se apresentar mais fraca no PIB, nas vendas no varejo, na produção industrial e que existe agora uma ameaça ao ritmo econômico global devido à variante Ômicron, poderia anunciar que seria possível não ter declarado o adiantamento da decisão da próxima reunião.

E que seria melhor aguardar o tempo passar, esperar pelas notícias e as pesquisas que esclareceriam mais sobre a nova variante, entendendo melhor o cenário.

Com isso, o prazo poderia ser cumprido até o dia 3 de fevereiro, ganhando mais tempo para analisar esses eventos incertos e também os possíveis impactos das próprias altas de juros. 

Altas que ocorreram no começo deste ano e que só agora estamos sentindo seus efeitos.

Dessa forma, o mercado poderia compreender e teria ciência de que o movimento da próxima reunião é incerto e baseado em dados, como é de costume dos bancos centrais que possuem um maior grau de credibilidade. 

É o caso do Banco Central Europeu, o Banco Central do Japão, o Fed, etc.

Essa hipótese seria bem justificada, visto que o Banco Central detém uma meta não somente no que se refere à inflação, mas também sobre emprego e crescimento econômico.

O que acabou acontecendo com esse adiantamento, é já sabermos da alta de 150 pontos basis na próxima reunião. 

A justificativa desse adiantamento foi que as expectativas de inflação foram desancoradas

Mas, no meu entender, os motivos pelos quais as expectativas foram desancoradas são justamente baseados nas expectativas das pessoas que contribuem para a pesquisa Focus, isso é, os bancos e os fundos. Eles são os mesmos que, de forma hilária, erraram completamente as previsões de tudo neste ano.

São essas as mesmas pessoas que têm tudo a ganhar com os juros mais altos e que não possuem nenhuma responsabilidade, caso a população geral seja impactada com os juros maiores que o necessário e consequentemente com o desemprego se agravando cada vez mais.

Essas pessoas (que contribuem para a pesquisa da Focus) estão muito bem empregadas e posicionadas.

Diante da própria curva de juros e na própria opinião dessas mesmas pessoas, podemos entrar em exceção no próximo ano, tendo que cortar os juros para tentar remediar essa situação.

Dado que os juros demoram de seis a nove meses para fazer impacto, um corte como esse de forma nada coesa, logo após uma pausa do próximo ano, só teria impacto em 2023 e faria com que as pessoas passassem por punições desnecessárias. 

 

 

Isso se dá, por um aspecto literalmente maldoso, pois muitas pessoas estão interessadas nas máximas dos juros, “pois é bom para os bancos”.

E também, pelo fato de que todos os economistas com anos de carreira, passam a observar e dão opiniões sobre o que fazer com o banco central independente que tinha apenas uma meta: a de inflação

Hoje em dia, isso mudou, não é apenas a meta de inflação que importa.

Se é necessário jogar a economia no buraco para cumprir tal meta, talvez seria melhor pausar a meta.

Isso tem consequência muito prática, pois, caso esse movimento de alta se confirme desnecessário, jogando a economia numa recessão mais forte, o próximo presidente do Brasil, — caso tenhamos um novo presidente em 2022 — pode convencer o senado de reverter a recém criada independência do BC. 

É como fazer com que um novo representante para o país trouxesse um novo presidente para o Banco Central, o que é algo de viés bem negativo.

Como consequência dessa medida, ao invés da bolsa subir ou o dólar cair, com a curva de juros arrefecendo com uma postura a forte, o que aconteceu foi exatamente o oposto. A bolsa caiu e o dólar subiu, assim como as taxas de juros. 

A reação se deu como um efeito rebote, oposta ao ter um Banco Central totalmente à frente da inflação.

Como já havíamos comentado antes, o BC perdeu, mais uma vez, a chance de recuperar a sua credibilidade e, infelizmente, já adiantou para este ano a revisão que deveria ser realizada no próximo ano

Isso é, ao somar esse 1.5% de agora que começará a rodar já no próximo ano, é como se a Selic estivesse rodando a 10.75%.

E, mesmo que haja uma reparação a fim de parar os juros, o que amenizaria a atual situação e mudaria as perspectivas negativas, na história nunca se parou de forma repentina, isso leva tempo e não acontece de um dia para o outro. 

O Banco Central começa a parar devagar. 

Independentemente da porcentagem que o BC pare, seja  com 100 pontos basis, mais 25, 75, já encomendamos um juros de final de ciclo, para 11% ou 12%, fazendo com que o Brasil tenha o maior juro real do mundo. E neste ano, o país fez a maior alta de juros do mundo.

Outro problema em ser independente é estar aberto às críticas, e da mesma maneira que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou Jerome Powell (atual presidente do Fed), no começo da pandemia, Bolsonaro também passou a criticar a postura de Roberto Campos Neto.

No dia da reunião do Copom, Bolsonaro ligou para Campos Neto cobrando sobre a sua postura. 

O presidente divulgou para a imprensa mostrando que tudo tem dois lados, e não só um ponto de vista, e que não somente a opinião dos economistas da Faria Lima é o que vai pesar como pressão em cima do presidente do Banco Central. 

A população, outros políticos, e demais economistas têm uma visão que o Campos Neto está atuando de forma agressiva e desnecessária.

Isso com o tempo acaba pesando e colocando-o em uma situação que desagradável e desnecessária.

Nós, da Inversa, acreditamos que o Neto está errado, mas isso todos sabem bem  já que era evidente.

 

Um grande abraço,

Rodrigo Natali.

Conheça o responsável por esta edição:

Rodrigo Natali

Estrategista-Chefe

Rodrigo Natali tem graduação e MBA pela FGV. É especialista em câmbio e macroeconomia, tem 25 anos de experiência no mercado financeiro, tendo passado por diversas instituições nacionais e internacionais onde exerceu a profissão de trader e gestor de fundos de investimento multimercado.

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