Inversa na Copa #1 - As várias Rússias

18 de junho de 2018
O trem – que nos levou rumo à estreia do Brasil na Copa – viajou bem mais que isso...

Caro leitor, cara leitora,

No trem que leva de Moscou para Rostov, um dos meus três simpáticos companheiros de cabine, o Misha, contou que 85% do dinheiro da Rússia está concentrado na capital do país, onde vivem menos de 10% da população.

Misha trabalha na fábrica de cabos de seu pai, em São Petersburgo. As vendas andam bem. Os últimos anos foram estáveis, com algumas exportações para a Bielorrússia e para o Cazaquistão, o de sempre por aqui. “Moscou é uma cidade rica, mas se você viaja 200 quilômetros para o interior verá um país completamente diferente”, ele me disse.

O trem – que nos levou rumo à estreia do Brasil na Copa – viajou bem mais que isso: 960 quilômetros, cumpridos em 16 horas, o que não é grandes coisas em termos russos.

Não sei bem se a estatística de concentração de renda de Misha está correta – ele é um rapaz bastante inteligente e bem informado, de qualquer forma. Aliás, não acho que aqui exista grande utilidade em citar estatísticas que provavelmente estão disponíveis no Google. Uma vez que viajei meio mundo para ver a Rússia de perto, acho que melhor é contar aquilo que só quem está aqui pode observa.       


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A verdade é que Moscou, de fato, impressiona por sua riqueza. É uma típica capital europeia – afinal de contas, apesar de qualquer diferença cultural, estamos na Europa. E sob qualquer aspecto é mais justo comparar Moscou a Paris ou Londres do que a São Paulo, onde os traços de subdesenvolvimento estão por toda parte. Eis aquilo que a observação cotidiana revela sobre a economia da cidade (e, em seguida, falaremos das outras Rússias):

- As pessoas andam super bem vestidas em Moscou. Não é um “bem vestido de terno na Av. Faria Lima”. É um “bem vestido revista Vogue”. É incrível! Principalmente os jovens, mas também os pais e mães moscovitas desfilam pelos metrôs e calçadas cheios de estilo e bom gosto – e assim revelam que têm algum dinheiro para o supérfluo no momento.    

       

- Não existe loja desocupada nos shoppings centers, nem mesmo naqueles de luxo. Nas ruas comerciais também não se veem pontos fechados ou para alugar. Todos estão ocupados por marcas de roupas, livrarias, restaurantes e serviços em geral.

          
- Nos restaurantes, por sinal, os cardápios são impressos em folhas plásticas grossas e têm uma encadernação parecida com um livro. O que dá a entender que não são reimpressos com frequência. Isso me levou a conferir a taxa de inflação na Rússia, e de fato ela está em 2,4% ao ano, atualmente, com o preço dos alimentos em desaceleração.

            
- Poucas coisas são tão reveladoras – e, para mim, prazerosas – quanto visitar os supermercados de uma cidade. Em Moscou, eles têm uma ampla variedade de produtos (frios, carnes e quitutes que a gente não encontra no Brasil), marcas de qualidade, frutas e verduras bonitas e frescas. Um típico supermercado europeu.

- Os trabalhos mais simples, como a varredura das ruas, foram em boa parte automatizados na capital. Sabe aqueles carrinhos que passam limpando as calçadas com vassouras giratórias? Eles são a norma em Moscou, embora ainda existam alguns varredores à moda antiga – aliás, o nível de limpeza das ruas é impecável. Também não se veem porteiros nos prédios.

- Por falar prédio, não é difícil passar por um que esteja recebendo algum tipo de restauração. Bom sinal! Embora, no geral, sejam bem conservados.

- A frota de carros é nova e moderna. Na próxima vez que imaginar Moscou, substitua os velhos Ladas dos anos 90 por SUVs (muito populares entre os moscovitas) e carrões como Porsches e Mercedes (nada difíceis de se encontrar). Felizmente a classe média usa o metrô, que cobre a cidade inteira, portanto o trânsito é aceitável.

       
Então saímos de Moscou para assistir à seleção em Rostov, no sul do país, às margens do rio Don, ali pertinho da Ucrânia. Pela janela do trem, longos trechos de florestas ou de campinas rasteiras – a Rússia é bastante rica em recursos naturais, e não exporta apenas petróleo e gás, como muito se fala, mas também madeira.

Além das florestas, essa parte da Rússia também é pontuada por uma série de pequenos povoados à beira da ferrovia. Pessoas que, de fato, revelam uma outra Rússia. Uma Rússia rural, um tanto pobre e depressiva.  

           

Alguns vilarejos são até charmosos, com casinhas de classe média, ao estilo subúrbio americano – embora a vida pareça ser monótona e isolada demais por ali. Noutros, as construções são precárias, misturando tijolos velhos e tetos de zinco. Algumas têm pilhas de entulho no quintal, outras dão a impressão de serem velhas oficinas malcuidadas.



Não se veem favelas, mas definitivamente o luxo de Moscou ficou para trás.

É interessante observar que em quase toda a viagem a internet funciona – e a internet é algo muito barato por aqui: paguei o equivalente a 40 reais por um chip ilimitado de 30 dias.

Pouco antes do meio dia, o trem chegou a Rostov.

Como o jogo era às 21h, tive tempo de passear pela cidade. Caminhei pelo centro, comi na beira do rio Don e passei no hotel que fica num subúrbio industrial.

                     
Rostov é uma terceira Rússia. Não tem o luxo de Moscou, mas é uma cidade média agradável.

O pior que vi foram prédios suburbanos com paredes velhas e roupas penduradas nas janelas. O melhor é o centro marcado por prédios históricos de estilo europeu, avenidas amplas, restaurantes de primeira à beira do rio e uma sensação de ordem e segurança pelas ruas e avenidas.

Pelo tamanho e importância econômica, a cidade onde a Seleção Brasileira fez sua tensa estreia seria comparável a Curitiba. Mas a Curitiba da Rússia, acredito, é mais “primeiro mundo” que a nossa. Sem dúvida é menos glamourosa que Moscou. Mas essa outra Rússia também está mais perto da Europa que da América Latina.

Existem, provavelmente, muitas Rússias dentro desse país gigantesco e próxima é a moderna e cosmopolita São Petersburgo: a “porta da Rússia para o Ocidente”, conforme definição meio brega de Pedro, o Grande, patriarca da cidade.

Desejo que o Brasil tenha mais sorte por lá.

Quero saber sua opinião sobre a “Inversa na Copa”. Você também pode enviar suas sugestões ou dúvidas para copa@inversapub.com.

Um forte abraço,
Pedro Carvalho

P.S.: Enquanto me desloco pela Russia, já começo a pensar em como eu vou viajar para a próxima Copa sem gastar nenhum centavo do meu salário. O pessoal da Inversa já me disse que isso é possível. Veja aquicomo realizar seus sonhos dessa forma também.

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